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Poesia portuguesa
Por Maria Sarmento Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 4 de Maio, 2024 261 palavras
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1

A última palavra não será a que fechará
os lábios do horizonte
É mais para diante que a barca navega
O rumo é o regresso, não a chegada.
Não há, para a voz segredada,
significado último.
É preciso navegar a Voz,
a sua pele, para que o horizonte
feche o mundo
como a duas metades de um livro já lido.

A última palavra é um sopro,
um gemido e um rumor de velas.
Barcas que velejam no lago mudo
Sons que alargam o silêncio
como no papel o grito fere a palavra
com a lâmina de nenhuma espada.

2

Devagar como quem planta a vinha
no veludo da noite
vão-se inclinando os dias
e a hora adormentada
sob a esfera do sol.
Mãos como veludo tecem
a fronte de uma carícia aquática de algas.

Há na dormência das noites
um mistério de cântico órfico
que põe sobre o silêncio da lira
o dedo em flor.
Sobem aromas no dedal do tempo
e as sombras desenham navios
aportados na ilha
de uma hora extática.

3

A montanha é um corpo de sombra arrefecida
E há lobos parados no desfiladeiro da hora
Saltam sobre o silêncio os olhos nocturnos do vento
Secreta luz que acende o esquecimento
Poema que lerás quando fores diadema.

4

Na rocha, entre o pinhal e o mar,
O azul é um murmúrio lento
que o vento peregrino leva
na vela de um azul maior que o mar.
Distância insituada entre o “Nunca” e o “Jamais”
Intervalo para onde tendem as sempre atormentadas
marés do peito ferido dos nossos segredados ais.

Ouvem-se os gritos das gaivotas
antes da noite visitar a Aurora.

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