Falar aos muros *
O traçado do labirinto
a sete voltas:
(quantas memórias largada a memória)
No vale um leopardo intui a lua
o fim da linha a prata das margens
e daí nasce a língua
O que lhe dá a força de uma fome.
* Referência a “Je Parle aux Murs”, de Lacan, e a quando escreve « Ni à vous, ni au grand Autre. Je parle tout seul. C’est précisément ce qui vous intéresse. À vous de m’interpréter. »
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Manicómio
Os loucos cravam nas laranjas o delírio dos paquidermes. Desfazem os gomos com armas de guerra. E saciam a ânsia à comédia que lhes escorre pela boca, garganta e peito. O pulmão da anca dos paquidermes transformado em suco. Eis como se formam os paraísos nas estâncias invisíveis de quem escolhe viver sem unhas.
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Para a Maria Teresa Horta
A Divisa do Ser
Certos poetas deixam-nos courelas. Outros, fazem transbordar a linfa
aquela vontade
aquela ânsia
aquele desmedo de Existir
A Maria Teresa Horta tinha
a boca de Maio e o pulso de Fevereiro
ensementou «Sentidos*» nas vésperas lavradas
do seu pousio
Por sobre tectos
despidos de Abris
haverá melhor plantio:
Esta vontade
inteira
ávida
desejos
& ressonâncias
desde o coração até à raiz?
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