Com as Mãos
com as mãos
construo
a saudade do teu corpo
onde havia
uma porta
um jardim suspenso
um rio
um cavalo espantado à desfilada
com as mãos
descrevo o limiar
os aromas subtis
os longos estuários
as crinas ardentes
fustigando-me o rosto
a vertigem do apelo nocturno
o susto
com as mãos
procuro ainda colher o tempo
de cada movimento do teu corpo
em seu voo
e por fim destruo
todos os vestígios (com as mãos)
brusca-
mente
*-*-*
3 Cantigas de Mal Haver
1.
Minha estrela do Norte,
procurei-a ao Sul,
pelo ocaso do meio-dia,
ao nascer da noite escura.
Meu rumo Infinito,
Tracei-o na terra dura.
2.
Meu Jardim Suspenso
onde me perdi à procura
de uma rosa-chá que não há
na Terra nem no Céu azul.
Meu vinho, bebi-o de um trago
pela taça do Rei de Tule.
3.
Minha Torre de Marfim,
abri-a de par em par, expu-la
à vilanagem, abandonei-a
à infrene turbamulta.
Enfim, desci à terra (ai de mim!).
Cavei a minha sepultura.
*-*-*
Nota: os presentes poemas, selecionados pelo próprio poeta, acabam de ser publicados no livro Como Tenuíssima Espuma de Luz pela Nona Poesia, que, gentilmente, autorizou também esta publicação.