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Poesia portuguesa
Por Ana Paula Jardim Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 4 de Outubro, 2024 184 palavras
Renovar a Língua é renovar o Mundo (Ensaio) Anterior Poesia portuguesa Seguinte

BEATAS

A vida é como as beatas lançadas nas pedras do chão
Umas queimadas
Fumadas até ao filtro
Outras deitadas fora, a meio
Inacabadas
Beatas cheias de conversas marcadas
Como batom
Sorrisos e segredos
Algumas crivadas de desesperos
Outras de bocas que ficaram por beijar
Beatas atiradas de madrugada
Molhadas de lágrimas e de sal
De ressentimento
Beatas confessionário
Beatas cinza
Beatas oração.

*-*-*

PODCAST

Nas varandas das casas escuta-se bem o ruído do mundo
Tudo o que uns dizem para baixo
Muitos dizem para cima
Conversas banais
Coisas sem sentido
Discussões de amantes
Desgostos de amor
Longos diálogos ao telefone
Variam consoante a hora do dia
Cigarros que voam pelas janelas
Pessoas que se apoiam nos barões
Cada um de nós a inalar o fastio até ao fim
Mulheres que sacodem os tapetes
Com fúria
Batem o pó das frustrações contra a parede
Miúdos que berram de chupeta na boca
De biberão na mão
Raparigas debaixo das mesmas arcadas
Escuras
Riem alto e embrulham mortalhas de haxixe às escondidas
Proibidas
Não há melhor plateia do que esta
Aristófanes sentado num anfiteatro
Observa a comédia da existência
Não é preciso comprar bilhete.

*-*-*

© A fotografia desta publicação é da autoria de Josefina Melo.


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