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Poesia brasileira atual
Por Maria Lúcia Dal Farra Publicado em Brasil, Literatura, Poesia a 2 de Abril, 2024 223 palavras
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HIPÓTESE

A crista do galo
não pertence a este mundo:
ela exalta o sol
se eriça para a luz faz-se carne poderosa
— dedo de Deus.

Avermelha-se
cresce em flor estranha
oferece alimento
(legume idiossincrático sem recheio) –
puro nervo.

Podia ser luva
da que não toca o fato
— da aristocrata, pessoal, indevassável —
da que não conspurca e nem se contamina
da que apenas (uma vez armada)
sobe alguns pontos acima do horizonte

e se mostra em trânsito transcendental.

*-*

VIDA

No palco permanente
(e improvisado)
de cada dia
o sol gera sobre o mar
um litígio de luz.

A fome voraz dos pássaros
providencia
(sobre essa massa fria)
uma penumbra de noite fechada.

Na praia
as tartarugas
remendam os cascos
para persistir suportando
(enquanto põem ovos)
as imprevistas variações

da sua própria geologia.

*-*

Maria Lúcia Dal Farra nasceu em 1944 em Botucatu, interior de São Paulo, Brasil. Autora de diversos artigos, ensaios e livros dedicados a Florbela Espanca, possui um livro de ficção, Inquilina do intervalo (2005), e quatro títulos de poesia: Livro de Auras (1994), Livro de Possuídos (2002), Alumbramentos (2011) e Terceto para o fim dos tempos (2017). Foi professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade de São Paulo (USP), Unicamp e Berkeley (Califórnia, EUA). Vencedora do Prêmio Jabuti na categoria poesia (com o livro Alumbramentos) em 2012.


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