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Poesia portuguesa
Por Rita Pitschieller Pupo Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 11 de Janeiro, 2025 256 palavras
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VESTÍGIOS DE UM QUÂNTICO INEVITÁVEL

No início parecem corvos
silhuetas prateadas alastrando líquida
a possibilidade boreal, vestígios de um quântico
inevitável em vaga suposição de estrelas

procuras uma face limpa
um preâmbulo com que arrepiar a incidência
em campo corpo de concentração
um segundo de nitidez
formas mínimas de transitoriedade
nutridas no aluimento da terra

às vezes a adequada ciência pede
do inexplicável uma tinta de poeta, e sobre
isso estender a longa escada do espanto
para que à tona sobrevenha a singular
nuance do efémero
o estreito caudal de resistência
de que apenas tocamos uma semi-breve
em absoluto sintético.

*-*-*

Estendes-te sobre a escrivaninha antiga
a decantar átomos, reflexos, omissões
uma infinitude de subtilezas
drapeadas à média luz. delírios avant-garde
sobre as múltiplas intensidades do corpo
é um trabalho cuidadoso de silêncios
interferências, versos brancos e terramotos
não convencionais. alguma coisa
que não sabe ou não pode ainda nascer

ensaias o momento de corte
o gatilho onde a seiva nutre o espanto
um holofote que alcance
em pleno voo os ossos da transcriação
podes também escutar Agamben
parafraseando Wittgenstein

repetir até que a dor se separe:
a poesia deve-se apenas filosofá-la.

*-*-*

Guarda as tuas fissuras
só elas te ensinam como é depois de cair
o que sobra no fundo de qualquer
dialecto onde somos todos barro de arremesso

recolhe as imagens e dobra a interrogação
pelos colarinhos. reserva-te um pouco
para as horas de sede

terás o necessário para um revolução.

*-*-*

Poemas do livro Atirar um Osso à Espera, Edições Húmus, 2024.


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