Despertar
Não a lembrar nem esperar
mas despertar ao vê-la
e deixar-me de mim quando viesse
*-*-*
À transparência
Adensa-se o fulgor na luz à transparência
que se perdia no teu olhar que repetia
não pode não ser nunca só pode ser a enchente
Não me vês ver-te vir para me veres vir?
*-*-*
Transmutações
Incessante vaivém no rasto alado
das águas da ribeira transmutando
na carne a luz das coxas franqueadas
aos instantes folguedos que hesitantes
entre as mãos e os lábios encorajam
*-*-*
Outra boca
Entre os lábios entreabre
no escuro a língua rouca
pele de loba e favo
de mel de abelhas bravas
o bosque de outra boca
*-*-*
Entre
O tudo não todo nunca
nem nada nem ser somente
nem fora nem dentro o entre
que dentro e fora entrejunta
sem superfície nem fundo
porque é o entre a nascente
*-*-*
Onde não vêm
Viriam sem se terem esperado nunca
como sem saber como se encontrassem
ao dobrar de uma rua onde passassem
E voltam a passar onde não vêm
*-*-*