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Poesia francesa do século XIX
By Alphonse De Lamartine Posted in Literatura, Poesia, Portugal on 8 de Junho, 2025 566 words
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Outono

Salvé! bosques coroados com restos de verde!
Folhas amarelecidas nos esparsos relvados!
Salvé, últimos dias agradáveis! O luto da natureza
Adequa-se à melancolia e agrada ao meu olhar!

Prossigo, qual sonhador, o caminho solitário,
Pretendo rever ainda, pela última vez,
Esse pálido sol, cuja luz ténue
Mal trespassa, a meus pés, a obscuridade dos bosques!

Sim, nesses dias de outono em que a natureza expira,
Com seus olhares velados, eu encontro mais encantos,
É a despedida de um amigo, é o último sorriso
De uns lábios que a morte vai fechar para sempre!

Então, prestes a abandonar o horizonte da vida,
Chorando em meus longos dias a esperança evanescente,
Viro-me uma vez mais, e com um olhar de desejo
Contemplo os seus bens que nem sequer fruí!

Terra, sol, vales, natureza suave e bela,
Devo-vos uma lágrima à beira da sepultura;
O ar está tão perfumado! a luz é tão pura!
Aos olhos de um moribundo o sol é demasiado belo!

Gostaria agora de esgotar até à borra
Este cálice com néctar e fel misturados!
No fundo desta taça onde bebi a vida,
Talvez tenha ficado uma gota de mel?

Talvez o futuro ainda me reservasse
Uma réstia de felicidade cuja esperança se perdeu?
Talvez na multidão, uma alma que desconheço
Tenha entendido a minha alma, e me tenha respondido?…

A flor cai entregando os seus perfumes ao Zéfiro;
À vida, ao sol, são essas as suas despedidas;
Eu, eu morro; e a minha alma, no momento em que expira,
Solta-se como um som triste e melodioso.

Alphonse de Lamartine (Tradução de Victor Oliveira Mateus)

*-*-*-*

L’ Automne

Salut! bois couronnés d’un reste de verdure!
Feuillages jaunissants sur les gazons épars!
Salut, derniers beaux jours! Le deuil de la nature
Convient à la douleur et plaît à mes regards!

Je suis d’un pas rêveur le sentier solitaire,
J’aime à revoir encor, pour la dernère fois,
Ce soleil pâlissant, dont la faible lumière
Perce à peine à mes pieds l’ obscurité des bois!

Oui, dans ces jours d’automne où la nature expire,
À ses regards voilés, je trouve plus d’attraits,
C’ est l’adieu d’un ami, c’est le dernier sourire
Des lèvres que la mort va fermer pour jamais!

Ainsi, prêt à quitter l’horizon de la vie,
Pleurant de mes longs jours l’espoir évanoui,
Je me retourne encore, et d’un regard d’envie
Je contemple ses biens dont je n’ai pas joui!

Terre, soleil, vallons, belle et douce nature,
Je vous dois une larme aux bords de mon tombeau;
L’air est si parfumé! la lumière est si pure!
Aux regards d’un mourant le soleil est si beau!

Je voudrais maintenant vider jusqu’à la lie
Ce calice mêlé de néctar et de fiel!
Au fond de cette coupe où je buvais la vie,
Peut-être restait-il une goutte de miel?

Peut-être l’avenir me gardait-il encore
Un retour de bonheur dont l’espoir est perdu?
Peut-être dans la foule, une âme que j’ignore
Aurait compris mon âme, et m’aurait répondu?…

La fleur tombe en livrant ses parfuns au zéphire;
À la vie, au soleil, ce sont là ses adieux;
Moi, je meurs; et mon âme, au moment qu’elle expire,
S’exhale comme un son triste et mélodieux.

*-*-*-*-*


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