Estás aproximando-te!
I
Olha, um novo dom
acrescentou-se hoje
ao teu (des)conhecimento.
Não sabes, nem queres
sequer saber
que acerca de ti nada sabes.
Para onde se retirou o brilho
das sedutoras vaidades?
Onde estão os luminosos perfumes
do nada?
Estás aproximando-te, amigo,
do conhecimento
do teu próprio desconhecimento!
II
Lembras-te
das noites de insónia,
de outrora,
quando a alvorada despontava
e tu te assustavas
com o que pensavas ser
a tua ignorância?
Estás aproximando-te,
cada vez mais,
da luminosidade do verdadeiro amanhecer,
após essas intermináveis noites de insónia
com inquietantes paisagens.
O desconhecimento parece, às vezes,
tão sedutor
para te apanhar nas suas armadilhas
de séculos de ignorância.
O desconhecimento
pode ser tão sedutor
que tu não consegues ver
os seus inúmeros malefícios
nem perceber que é apenas um fantasma.
III
Um rei coroado de ilusões
será forte
enquanto
lhe concederes esse poder.
Acaso te perguntaste alguma vez
quem poderia ele ser,
já que ele conhece todos os teus segredos,
todas as tuas carências,
todos os teus quiméricos desejos
e alicia-te
apenas para seres o seu humilde servo?
Se não o sabes, inteira-te de que chegará a hora
em que as suas dilacerantes perguntas
serão a paisagem das insónias
daqueles que querem saber
insónias que chegarão sem dúvida –
para aquele que procura
incessantemente
o caminho para sua casa.
IV
Estás a aproximar-te, filho, da simplicidade
e, por vezes, essa aproximação
é tão dolorosa.
Desvela todas as tuas dúvidas
todas as angústias
e o teu desgosto pode ser-te fatal.
Não tenhas medo, por ti,
por aquele que tu és, mas por aquele
que tu t’imaginas ser,
aquele que defendes
cem vezes ao dia,
aquele que tu culpas milhares de vezes,
para o perdoares dezenas de milhar
a cada momento.
V
Ó, como gostarias de conhecer
aquilo que te poderá conduzir ali
onde não sabes que estás!
Irás, sem dúvida, até lá,
mas assustar-te-á o perigo
formado por milhões de pequenos
perigos que te espreitam a cada passo.
Não é, então, agradável saber
que ele te acompanha sempre
e aceitar que se converta
em teu companheiro de percurso?
VI
Estás apavorado pelo facto
de poderes perder
o direito ao não conhecimento
ao ser atraído até à loucura
pela inefabilidade do nada
a que poderias chamar caos
nos teus melhores momentos.
O tumulto da diversidade
atrai-te como um íman.
Contudo,
no teu eu mais profundo
reside a paz.
E essa paz envolve-te
na sua sinfonia de silêncio,
por vezes,
muitas vezes,
sempre…
VII
Aproximas-te do rio
“conhecer ou não conhecer”.
Estás preparado para o atravessar?
Ele é assustador!
Ele corre ante os teus olhos
abertos de par em par
e que, todavia, não veem.
VIII
Estás aproximando-te
da grande questão, meu filho!
Estás preparado para conhecer a resposta?
O que te impede de ver,
talvez seja, paradoxalmente,
o que te pode ajudar a encontrá-la.
Estás preparado para seguir adiante?
Ou talvez para recuar? Quem sabe?
Colaboras ou não
na destruição das estátuas
que tecem louvores aos teus (des)méritos?
De qualquer modo, elas destruir-se-ão
por si próprias,
ainda que possas edificar outras,
igualmente insignificantes,
segundo o teu livre desejo.
IX
Estás aproximando-te da simplicidade,
mas os obstáculos do teu caminho
não terão pejo em adquirir formas
mais ameaçadoras.
E, por vezes,
se bem que talvez
te pareçam sedutoras –
tentarão tudo
para te bloquearem o caminho.
X
Estás aproximando-te
da grande simplicidade, meu filho!
Assustar-te-á, talvez, o caminho
onde irás estar cada vez mais só.
XI
Aquilo que, parece, te poderia deter,
que parece ser tão forte
se bem que seja ilusório
pergunta-te: “que poderá ser?”
Quanto mais te aproximares,
mais o perigo se amplificará
devido à fascinação dos infinitos
matizes da irrealidade,
que te podem atrasar,
a menos que tu sejas
suficientemente firme.
XII
Estás aproximando-te do que É!
Estás preparado?
.
.
ELENA LILIANA POPESCU
Versão portuguesa de: Victor Oliveira Mateus