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Figurações da Subjetividade na Filmografia de André Téchiné (Parte 6 )
Por Victor Oliveira Mateus Publicado em Artes, Cinema, Portugal a 2 de Abril, 2025 3295 palavras
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NOS ANNÉES FOLLES (2017)

Pierre Deladonchamps (Paul Grapp/Suzanne)
Céline Salette (Louise Grapp)
Grégoire Leprince-Ringuet (Charles de Lauzin)
Michel Fau (Samuel)
Clotilde Le Roy (Arlette)
Virgine Pradal (avó)

O presente filme apresenta também uma ação interpolada, mas não no sentido em que duas histórias distintas que decorrem em espaços e tempos narrativos diferentes se vão cruzando aqui ou tangendo-se acolá. Não, neste filme o interpolamento tem uma apresentação diferente: é o Mesmo que se bifurca e ocorre num tempo real e linear, mas também como representação/ilustração encenada no espaço de um cabaret.
A história de Paul e Louise Grapp foi descoberta pelos historiadores Fabrici Virgili e Danièle Vodman através de fotos e Diários, que ele encontraram durante um trabalho de investigação. Esta sua descoberta seria depois exposta pelos ditos historiadores na obra “La Garçonne et l’ assassin” (Payot, 2011).
O filme apresenta-nos a história de Paul Grapp, que sendo chamado para as trincheiras durante a Primeira Grande Guerra, mutilou-se num dedo e, com o auxílio da mulher, acabou por desertar.

Louise visita Paul, o marido, que está na frente de batalha. Uma estalajadeira arranja-lhes um quarto. Louise queixa-se do cheiro do marido e, com um jarro de água na mão, dá-lhe banho. Enxuga-o.
Paul: Uma hora passada aqui é uma hora a menos nas trincheiras. Vem. Quando estás assim tenho a sensação de te proteger.
Louise: Eu também.
Paul: Tu também?
Louise: Eu também tenho a sensação de te proteger.
Paul: Sim? Eu tenho assim um ar tão frágil?

Louise: Sim. Eu protejo-te.

Estão lançados os grandes temas do filme: Violência/Proteção, Amor/Entrega/Desconfiança.

A Ação salta para o acima referido cabaret.
O empresário (para o público): uma rajada de obus arrancou o index direito do nosso herói: Paul Grapp, que, suspeito de automutilação, foi detido juntamente com os prisioneiros alemães. Os médicos deram o seu dedo como perdido e decidiram amputar-lhe as duas primeiras falanges.

Louise visita o marido na enfermaria. Há feridos por todo o lado.

Paul: Conseguiste arranjar?
Louise: Sim.
Paul: Como fizeste?
Louise: Comprei uma. Pedi dinheiro emprestado à minha avó.

Paul: Quando eu disser, esconde-la debaixo do travesseiro
Louise: Tens a certeza?

Paul: Sim, tenho a certeza. Não quero regressar (ao campo de batalha). Vá. Agora, depressa!
Louise esconde a pistola debaixo do travesseiro dele.
Paul: Não precisas de chorar, Louise.
Paul, de noite e vestido à civil, tira a pistola de debaixo do travesseiro, atravessa a enfermaria, a capela, as ruas circundantes e foge para casa
A deserção de Paul conduz ao desejo de o capturarem. Dois homens batem à janela de Louise.
Homem 1: Louise Grapp?
Louise: Sim
Homem 1: Teve recentemente contactos com o seu marido?
Louise: Não, a partir do momento em que ele voltou a partir para a frente, nunca mais tive notícias dele. A última vez que o vi foi no hospital.
Homem 2 (salta pela janela para o interior da casa e começa a revistar tudo): E depois? Nenhum contacto?
Louise: Porquê? Ele morreu?
Homem 2: Ele desertou a partir de 19 de maio.
Louise: Não acredito no que está dizer.
Homem 1: O seu marido deve estar em alguma aldeia pequena ou no estrangeiro. Estou certo de que ele irá entrar em contacto consigo. É do seu interesse prevenir-nos.
Louise: Assim farei.
Homem 2: E por que o fará, madame?
Louise: Porque é uma vergonha ser mulher de um desertor.
Depois dos homens partirem, Louise e a avó arredam um louceiro e Louise entra por uma porta até então escondida pelo dito móvel e desce a um subterrâneo onde o seu marido se esconde.

No atelier as costureiras veem um soldado sentado num murete coçando os piolhos, trazem-no para dentro, dão-lhe banho, tratam-lhe da roupa, enquanto o vestem com roupa feminina, a única que têm disponível.

Em casa, Louise procura no roupeiro da avó um vestido de mulher.
Avó: Porque é que estás a vasculhar as minhas coisas?
Louise: Procuro um vestido para o Paul.
Avó (rindo): Um vestido para o Paul?! Julgava que eras doida, mas isto ultrapassa tudo.
Louise (segurando um dos vestidos) : Ainda bem que guardaste isto.
Já na cave, Louise maquilha o marido.
Louise: Para de te mexer.
Paul: Podemos dizer que isto te diverte. Brincas com uma boneca.
Louise: Tu não podes ser parecido com os homens dos avisos de captura.
Paul: Dentro de duas horas a minha barba voltará a aparecer.
Louise (enfiando-lhe uma peruca): Agora…
Paul: Não, isso não.
Louise: Por favor, Paul.
Paul: Não! É ridículo.
Paul vai ver-se ao espelho. Fica horrorizado e tira a peruca.
Paul: De onde te vêm estas ideias? E se falarem comigo na rua? Já pensaste na minha voz?
Louise: Não é assim tão mau ser-se mulher, Paul. Nós, pelo menos, não fazemos a guerra.
Paul: Não, pelo menos não fazem a guerra
Beijam-se. Fazem sexo.
Agora Paul depila-se com uma máquina de eletrólise que Louise lhe trouxera, esta, por sua vez, fura-lhe também as orelhas e ajuda-o a vestir-se.
Paul: A minha maçã de Adão? Vai ver-se.
Louise: (colocando-lhe uma echarpe à volta da garganta): Sim, também pensei nisso.
Paul: Não consigo impedir-me de rir, quando olho para mim. Tenho de te beijar.
Louise: Espera. Tenho de te refazer a maquilhagem.
Paul: Não é grave.
Fazem sexo.

Paul, já completamente, travestido, come com Louise e a avó à mesa.
Avo: Mas Paul…
Paul (corrigindo-a): Suzanne.
Avó (retificando): Suzanne, você vai passar a guerra com esses vestidos detestáveis?
Louise: Paul esconde-se. Ele é procurado. Se tens uma solução melhor, diz-nos.
Suzanne: O que é que você preferia? Que eu fosse uma presa do Estado? Que estoirasse nas trincheiras?
Avó (sorrindo e apontado os seus seios): Vai ser preciso que você ganhe aqui alguns quilos.
Riem os três.
Paul: Não vejo como, a não ser que utilize uma bomba de encher pneus.
Voltam a rir.

Suzanne sai do esconderijo. Diz a Louise, que está na cama, que quer ver se é capaz de sair de casa assim vestida.
Louise: Mas que horas são?
Suzanne: Duas horas, creio.
Louise: Vais sair às duas da manhã?
Suzanne: Ajudas-me aqui com o colar.
Louise: Queres que te acompanhe?
Suzanne: Não, tenho de ter tomates de ir só! (Pegando na pistola): Levo-a, assim sinto-me seguro.
Suzanne sai de casa. Louise, do lado de dentro da janela, fica a vê-la partir.

A narração volta ao cabaret.
O empresário: É assim que Paul Grapp se torna Suzanne Landgard e avança para descobrir as maravilhas do Bosque de Boulogne, que é um jardim encantado, o paraíso dos aventureiros galantes, a ronda de todos os prazeres sensuais. Todos!

Ao amanhecer, Suzanne volta para casa: põe música no gira-discos, abre a janela, tira a peruca, acorda Louise que lhe sorri, beijam-se, dançam as duas ao som da música, mas depois já não é Suzanne, mas Paul que está a dançar com Louise. Por fim, voltam a ser as duas: passeiam pela orla marítima, Suzanne segura um pequeno chapéu de sol beije e aberto.
A narração continua na vida real:
A guerra acabou, a multidão canta a Marselhesa e agita bandeiras, grita “Viva a República” e “Viva a França”.
No atelier a patroa diz que é dia de festa, e que as operárias devem parar de trabalhar e tirarem o dia. As colegas pressionam Louise para sair com elas, mas esta recusa, tem de se encontrar com Suzanne.
Colega 1: Suzanne, é sempre a Suzanne. Gostaríamos de ver essa Suzanne. Ela nunca sai?
Colega 2: Para vivermos felizes, vivamos escondidas.
Louise despede-se das colegas com dois beijos, contudo, a patroa, que um dia lhe confessara ter tido uma paixão por uma mulher, a quem nunca nada confessara sobre o assunto, interpela-a:
Patroa: E eu? Por que não me deste um beijo?
Louise dá-lhe dois beijos.
Patroa: Eu acompanho-te. Louise, convido-te para jantar esta noite?
Louise: Não, não posso.
Patroa: Outra vez a Suzanne? E o Paul? Tiveste notícias dele?
Louise: Não, nenhuma. Por que me falas dele?
Patroa: A guerra acabou. Eu posso entender duas mulheres que vivem juntas… Mas ele?
Louise: Ele, se voltar, logo se verá.
Patroa: Devias pedir o divórcio. Com um marido desertor, tu obtê-lo-ias.

De novo o cenário do cabaret:
O empresário: Por vezes, Louise acompanha Suzanne nessas saídas noturnas. Mas Louise tinha medo, caros senhores e senhoras.

Regresso à visa real:
Suzanne volta a casa, é já manhã. Toma café com Louise. Paul (já sem peruca) insiste para que Louise o deveria acompanhar nessas incursões noturnas
Paul/ Suzanne: Quando vamos juntos, isso aproxima-nos uma da outra.
Louise: Vejo que isso te dá prazer, a mim desgosta-me.
Paul/ Suzanne: O que é que te desgosta?
Louise: Todos esses desconhecidos. Não consigo, tenho necessidade de… conhecer as pessoas, para me deitar com elas, para as amar um pouco
Paul/ Suzanne: Amá-las? Mas eu não as amo, Louise. É a ti que eu amo. Apenas a ti. (Beijam-se): Com os outros não é amor, é gulodice (e exemplifica metendo avidamente um croissant na boca): Junto o útil ao agradável, mas se isso te incomoda, eu paro.
Louise: Não te peço isso, Paul.

Regresso ao atelier, ante o qual para uma caleche e sai um lacaio, que vai falar com a patroa. Após esta conversa, Louise vem cá fora dialogar com o desconhecido, que se lhe apresenta.
Conde: Charles de Lauzin. Desculpe-me de a importunar no seu trabalho, mas Suzanne encorajou-me a fazê-lo. Nós vimo-nos ontem, no Bosque, lembra-se?
Louise: Sim, e então?
Conde: Então, apaixonei-me por si
Louise: Vou lá raramente.
Conde: Porquê? Não se sente tentada em entregar-se aos prazeres, como a sua amiga Suzanne?
Louise: Todos os prazeres. Não gosto demasiado disso. E durante a semana, como vê, eu trabalho, portanto, tenho de me deitar cedo.
Uma festa no palácio do Conde Charles de Lauzin, para a qual Suzanne e Louise são convidadas: há canto, danças, luxúria, sexo pelo chão e pelos sofás. Louise afasta-se e percorre o interior do palácio, observando móveis, fotos, mas a certa altura é surpreendida.
Conde (indicando-lhe um cadeirão perto de uma secretária): Sente-se no meu cadeirão, é um velho companheiro. Segue-me desde os meus primeiros anos, quando fui Dragão em Perpignan.
Louise: Não sabia que tinha sido herói.
Conde: Não! Um figurante apenas. Não estou morto, mas tenho a nostalgia da frente.
Louise: A nostalgia da frente?
Conde: Vai continuar de pé?
Conde (depois de Louise se ter sentado e dele lhe ter estendido um jornal): O papel de Suzanne terminou agora. O seu marido já não tem razões para se esconder. Até há pouco nenhum advogado cometeria a loucura de defender a sua causa. Os desertores não compreenderam que organizarem-se em linha de batalha é subir ao céu. Eu nunca me senti tão livre a não ser quando combatia; a minha vida aparecia-me mais preciosa do que nunca, no entanto, eu tê-la-ia entregado sem lamentações, porque eu não mais me pertencia. Não podemos recusar essa experiência que apenas a guerra nos concede; quando um soldado arrisca a sua vida pela nação, ele torna-se a nação. É uma alegria intensa! A guerra liberta-nos de nós próprios: é uma vida superior! Após o fim dos combates, tive a impressão de ter perdido uma alma, uma alma maior do que a minha. A paz apenas me trouxe o vazio e o desencanto; monotonia e mesquinhez. Tive mesmo a tentação do desespero. Cheguei a pensar no suicídio, felizmente encontrei-a. Você tornou-se a melhor parte da minha vida.
Louise: Mas eu não quero ser a melhor parte da sua vida, e não o serei.
Conde: O amor que tenho por si não é cego, ele é reto, é um amor forte e rude.
Beijam-se
Amanhece, a festa do Conde de Lauzin terminara. Suzanne e Louise saem do palácio.
Na caleche de regresso a casa.
Louise: Por que choras?
Suzanne: estou feliz
Louise: Porque estás feliz?
Suzanne: Porque tu me amas e eu amo-te. E viajamos os dois. Vamos longe. Viste o Conde? Ele é um sedutor. Eu tinha-te dito.

No cabaret, durante outro espetáculo.
O empresário: O céu também lhe pertencia (…) Suzanne dizia: “Nós não somos vítimas, Louise, nós somos mulheres livres”, mas Louise respondia-lhe: “Eu não percebo aonde me queres levar”, e Suzanne respondia: “Tu crês que eu própria não compreendo? Somos exploradoras, minha Louise. Os exploradores não sabem o que virão a descobrir”.

Existem momentos em que o espaço da representação/do cabaret coincide com o da ação passada na vida real.
Paul: Eu sou um animal de feira, senhor Conde. Isto da representação não é nada glorioso, mas dá-me algumas moedas. Peço-vos, não fiqueis de pé.
Conde: De facto, não sou adepto de trazer à luz do dia coisas que, segundo eu, devem manter-se secretas. Enfim, é preciso viver-se de acordo com o seu tempo. Felicitações pela atuação. Você tem sorte.
Paul: Não estou a perceber.
Conde: Falemos de homem para homem, se assim o posso dizer. É o único meio para vos trazer à terra, de esquecer Suzanne e todas essas ninharias, e de voltar a ser Paul Grapp.
Paul: De voltar a ser Paul Grapp?
Conde: Você pode contar com o meu apoio, meu amigo, a única coisa que mais me importa é a felicidade de Louise. Eu cuidarei para que ao vosso filho não falte nada.
Paul: Qual filho?
Conde: Eu pensava que…

Paul regressa a casa, bêbedo. Cai no chão. Louise salta da cama para o ajudar.
Paul: Eu não estou preparado para ter um filho. Por que não me disseste nada? Tu sabias que eu não queria, é isso? Preciso que me dês tempo. Dá-me tempo! Prometo-te que teremos um filho mais tarde, mas agora não é o momento. Este não o vamos guardar. Diz qualquer coisa. Por que não dizes nada? O que é que tens? Responde-me!
Paul esbofeteia Louise.
Paul: Por que é que o Conde sabia e eu não? (Volta a bater-lhe): Diz qualquer coisa.
Louise deita-se, virada para o outro lado, mas sempre sem dizer uma palavra.

Suzanne chega a casa, depois de uma noite de deboche, despeja em cima da mesa a bolsa com os cosméticos, as notas que ganhou durante a noite, a pistola. Vai guardar o dinheiro numa caixa. Louise pega na arma, observa-a.
Louise (olhando a pistola): Por que é que guardas sempre isto?
Suzanne: Isso é para o caso de haver um mau encontro.
Louise: Seria bom que parasses de te prostituir.
Suzanne: Não empregues essas palavras. Gosto do que faço. Não quero que me julgues.
Louise: Eu não te julgo, Paul
Suzanne: Sim, tu tratas-me como uma puta. Como é que viveríamos? Com o teu trabalho? Ou então deverei ir fazer de palhaço no cabaret do Samuel? O que é que preferes? Isso daria mais, acreditas?
Louise: faz como entenderes, Paul. Amo-te como és.
Paul (com um sorriso cínico): Amas-me como sou … mas eu não sei como sou.

De novo no cabaret
Empresário: Como ela o transformou em Suzanne, transformou-o em Paul. Uma semana apenas foi o suficiente para que a odisseia do desertor travesti desse as voltas todas, senhoras e senhores, foi assim que Paul Grapp passou da clandestinidade à glória.
A assistência aplaude efusivamente.
Empresário: adivinho a vossa impaciência, mas calma, peço-vos. Colocai as vossas questões, por favor.
Paul, sentado no meio da pista, é bombardeado com as várias perguntas dos espetadores, mas vai ficando cada vez mais desesperado e não consegue responder a nenhuma.
Empresário (entrando no camarim): Porque te pago, Paul?
Paul: Não consegui.
Empresário: Trabalhámos muito, você sabia as respostas de cor. É preciso ser forte.
Paul (devastado): Mas eu sou forte como Suzanne. E recuso escolher entre Paul e Suzanne. Não quero que me imponham isso.

Um bebé chora na sua caminha feita de armação metálica. Louise trabalha pintando pequenos soldadinhos de chumbo. Paul olha-o com desagrado. Louise pega no bebé e embala-o. O choro abranda.
Numa outra noite o bebé volta a fazer barulho. Paul pega nele, leva-o para outra divisão, coloca-o diante de uma janela e abre-a: lá fora neva, o bebé chora ante aquele frio. Louise, meio escondida, observa a manobra, passa por ele e tira o bebé do sítio onde Paul o deitara, e fecha a janela. Louise olha para o marido com um ar enigmático, este regressa para a cama.

Em casa, com o bebé ao colo, Louise cantarola para o acalmar, vai depois pintar os seus soldadinhos de chumbo, mas o bebé não se cala, palra.
Louise (para Paul, que se está a maquilhar; a transformar-se em Suzanne): o que é que estás a fazer?
Paul: Tu vês perfeitamente. Preciso de encontrar Suzanne. Há muito que não tenho conseguido.
Suzanne (visando o bebé): Ele não se cala.
Louise (ambos perto da cama do bebé): Peço-te que não lhe faças mal.
Suzanne: Ele porta-se mal, eu encarrego-me de o ensinar.
Louise (para Suzanne que tenta tirar-lhe o bebé dos braços): Para! Deixa-o.
Paul: tens a certeza de que ele é meu? É por isso que tu não queres que eu pegue nele, dá-mo um pouco.
Louise: Para, Paul! Já bebeste demasiado. Tu bebes muito.
Louise sai da sala para o seu quarto com o bebé ao colo. Suzanne senta-se frente ao espelho e continua a maquilhar-se. Louise veste-se para sair de casa, mas Suzanne abre uma gaveta, tira a chave da sua bolsa e fecha a porta à chave.
Louise: deixa-me passar.
Suzanne: Vais para onde assim? Vocês não sairão daqui, permaneceremos os três em família.
Suzanne empurra-os para o quarto, põe um disco a tocar, mas o bebé chora cada vez mais alto. Louise senta-se na beira da cama, não sabendo o que fazer.
Suzanne (gritando da outra sala com ódio): Fá-lo calar, merda! Se ele continua a berrar, serei eu que o farei calar! Para, Louise!
Louise abre a bolsa de Suzanne, tira de lá a pistola e dirige-se à sala, onde Suzanne se continua maquilhando, contudo, pelo espelho ela vê Louise aproximar-se: o olhar de Suzanne, esbugalha-se, denuncia terror. Louise ergue a arma e dispara quatro vezes. Suzanne cai para trás, para as costas da cadeira: tem um tiro na testa e três no peito.

Louise, ofegante, senta-se na beira da cama, como quem não entende o que acabara de fazer. Louise é constituída arguida, sendo mais tarde julgada e absolvida pela morte do marido.

As costureiras estão sentadas, ao sol, debaixo de uma árvore e conversam. Louise aproxima-se empurrando um carrinho de bebé.
Costureira 1: É a Louise!
Costureira 2: É mesmo!
Levantam-se todas. Chamam-na: Louise! Louise! Louise aproxima-se. Saúdam-se, beijam-se.
A patroa: Oh, deixa-me pegar nele. Vem aqui meu homenzinho, vem cá, vem.
O bebé passa de colo em colo, há risos, a patroa abraça Louise
Patroa: Que nome lhe puseste?
Louise: Paul Grapp, como o pai.


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