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Poesia atual do Quebec: Exercices de joie (1, Première Partie). Versão portuguesa, página 2.
Por Louise Dupré Publicado em Canadá, Poesia a 2 de Outubro, 2024 230 palavras
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ainda consegues revolver
o ar denso
das ruas

sem esperar
consolação

já não tens idade
para rosas nem pássaros

e não conseguirás
reparar a tua alma

nem a Terra

nem o céu
agora abandonado

admite-o
como uma evidência

desenhada
nas linhas
da tua mão

porque tu aprendes a ler
o que ninguém te quis
ensinar

como se abrem
as narinas

ante os perfumes de julho

és uma respigadeira
revolvendo
os caixotes de lixo

e reciclas
flores secas, bibelôs
ou poemas

mil vezes recitados
nas escolas

antes de serem condenados
ao esquecimento

é tão fácil apagar
o quadro negro

tão frágil, a memória
dos livros

que tentam resistir
a todo o tipo de poluição

tomas de empréstimo aos tempos
antigos
a voz dos enforcados

que imploram piedade
aos seus semelhantes

mas tu não acreditas
no teu próprio apelo

não acreditas
poder
abalar os muros

erguidos nos quatro cantos
da humilhação

estão por toda a parte
e bem perto

como uma febre
sem cura

um ácido
que corrói a razão

enlouquecem-te
e tu sabes isso

mas preferes o teu tormento
à doença
dos corações empedernidos

tu dominas o teu delírio
e escreves

apesar do medo
que te cortem a mão

procuras sinónimos
atuais
para a palavra obrigado

e dizes compaixão
ou bondade

quando te ergues
contra a língua letal
que te impõem

está por toda a parte

é a tenacidade e a astúcia
que pirateiam todos os dias
a mente

como uma rede
mal protegida


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