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Poesia atual do Quebec: Exercices de joie (1, Première Partie). Versão portuguesa, página 3.
Por Louise Dupré Publicado em Canadá, Poesia a 2 de Outubro, 2024 172 palavras
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por vezes tu desejarias
a amnésia

mas escolhes
o sofrimento

em vez de renunciar
à agitação
do mundo

o poema ressuscita
das palavras
assassinadas

e planta cravos
no infortúnio

para o tornar
suportável

o poema é uma oração
secreta

uma noite que pretende
fazer ouvir
as óperas do passado

tu cantas desafinada
ora mal ora numa lástima

mas cantas

porque de nada te serve
choramingar

mesmo que este tempo se esteja
afundando no mar

como um paquete
esventrado

havia orquestras
capazes de acompanhar
o seu naufrágio

havia desesperos
que mantinham coragem
até ao fim

tu não pretendes morrer
antes da morte

e contas
pelos dedos
os anos que te restam

procurando
de que resistência
te podes reclamar

senão da vida
que pretendes fruir
até ao fim

e regressas
ao verbo querer

tu repete-lo
como se ele se pudesse apresentar
suficientemente benévolo

para apaziguar os teus choros

e sem esperares
o mínimo auxílio

ergues o olhar
para a esperança de um amanhecer

e acolhe-la
na palma da mão

                              Tradução de Victor Oliveira Mateus

Nota: As expressões em itálico referem-se ao poema “Balade des pendus” de François Villon.


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