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Poesia portuguesa
Por Isabel de Sá Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 22 de Novembro, 2023 233 palavras
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DENTRO DAS IMAGENS

Os poemas têm veneno na boca.
.
Na estrada da minha vida
plantei a árvore
sem saber quem era.
.
Em que parte do planeta
há mais ódio? A matéria
erosiva transforma o corpo
e não há regresso. Não
restará um monte de estrume.
.
Em todo o lado
parece que o mundo em desordem
pouco a pouco enlouqueceu
e os homens atam a corda
à espera que aconteça.
.
São infelizes
mas não o suficiente.
Não sabem dizer
por que se esquecem de amar.

***

Fui à rua buscar a morte que andava desaustinada pelas paredes como um cão raivoso. Ofereci-lhe o braço. Trouxe-a comigo, fi-la minha amante. Num leito de linho nos deitámos e em segredo me falou dias seguidos sobre a sua infância, a solidão debaixo da terra, o amor pela natureza. Explicou-me como acariciava os bichos comedores de cadáveres e dessa alegria maliciosa.
.
A morte passou a ter para mim muita importância. Comecei a vesti-la de alvas roupas, coser-lhe flores ao crânio, amando-lhe a face lívida, iniciando-a numa sensualidade sem fim.
.
Então numa manhã a Morte sorriu mostrando nos seus lábios o seu carácter perfeito, isento de mesquinhez, beijou-me a boca, as pernas, o coração. Perturbou-me.
.
No meu interior países fervilhavam, milhões de rostos se viraram à luz: tudo era claro como nunca sucedera.
.
Começara outra vida: dera-se a iluminação.

***


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