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Dois poemas inéditos
By Ângela Almeida Posted in Literatura, Poesia, Portugal on 27 de Dezembro, 2020 154 words
Poesia Italiana Contemporânea (versão bilingue) Previous Recensão de um livro de Samuel Pimenta Next

o cansaço alonga-se
nas ruas da cidade
exilada

sem rios para desaguar
a dor
roça as paredes das casas
e espraia-se nos bancos
dos jardins

não há notícia das chuvas
nem dos bandos de corpos
que mastigavam a sede

sobrevivem

meia dúzia de janelas
indefesas
e os acenos da memória

o último habitante feriu-se
quando tentou escalar
os dias

a Ricardo Reis

Mestre

quando a guerra terminar
farei um abrigo de rosas brancas
e lá nos encontraremos
e olharemos o futuro
em que juntos traremos o rio nos olhos

e conforme dizias
deixaremos que o dia passe leve
e sem pesar
entregando a agonia aos deuses
nossos cuidadores incautos

e ausentes de qualquer enleio
falaremos do exílio na pátria
que não no Olimpo
e soltaremos cada hora
roubada ao nosso momento

quando o dia acabar
e o abrigo de rosas secar
cada um de nós partirá
tranquilo
para o seu jardim indefeso

porque

as nossas mãos continuarão vazias
e os nossos sonhos

esses

estarão guardados no intervalo do tempo

Literatura Poesia Portugal


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