levo-te ainda hoje a memória do
limoeiro onde escondemos a condenação de uma tarde
encharcada em campos de servidão e a imponência de
uma árvore no cimo de um suplício
levo-te ainda a confissão deste terrível
esquecimento dos meus olhos e dos braços e da voz
abraçada a
uma pedra colossal no sopé da montanha
e naturalmente meu amor
levo-te o epílogo da mais longa noite
da infindável noite de
um soldado roendo a última erva deste mundo
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suspenso no martírio da fome de ânimo que
segue caminhante por cima de cada colina de desamparo
estavas tu
tu e o imensurável terraço de sujeição que
foram os dias do amanhecer deportado para lá dos
verbos que mastigam a chuva nas planícies agora fundeadas no
auto de fé dos dias inscritos no edital que abre a porta de acesso à
tecelagem dos últimos minutos
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