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Textos de Prosa Poética
By Isabel Mendes Ferreira Posted in Literatura, Portugal, Prosa Poética on 14 de Setembro, 2025 633 words
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e é assim que rumo ao silencio.sem rumo nem rimas.
não me morras. nunca. não me deixes. nunca. nunca me devores esta transgressão de te ser a mais doce garra que te agarra a penumbra e te desfila até ao corredor da vida sem morte sem espinhos sem pálidos noivados distorcidos. não me clones outro sonho que este é mais forte que todos os abandonos. vive no fundo das lágrimas sem código de barras nem consumo fácil. sou o tempo oblíquo construtivo de uma teia sem estranhamentos nem compromissos inclinados. não me adoeças o lado mais avesso da realidade onde o destino parece tântrico e não passa de um manto. em círculo. em renda. sem fases de lua. sempre crescente. não me arranhes não me estranhes não me desalimentes esta fome de humanos e de plantas que como as rosas são asas e toalhas estendidas para te receber em linho em estanho em fulgor em crença. nunca te atrevas a morrer-me que me crivas de cristais criminosos e corrosivos. perfurantes e mendigos. sou a tua melhor célula o teu sangue o teu olhar o teu silêncio o teu apelo o meu peito no teu cravejado de montanhas. as mesmas que nunca ouvimos chorar mas que sabemos serem sete estátuas a moldarem-te o sobressalto. nunca me morras que eu tenho de ir à tua frente. amusgar-te o caminho.ser-te o ninho de todas as flores. coroa zodiacal em permanente guarda. casa. de diversos modos te fiz chave. aguardo.te com esta pele intocável. pulsão de todas as metamorfoses. lá fora o enigma é triangular. que importa. crucifico-me de rosas errantes. e deixo-te a última refeição de raios e de rumores alvos e nunca predadores.________________só as bestas morrem deitadas de lado.abocanhadas de lodo.mas tu és o prado. lázaro.

*-*-*
era um dia cinzento e feito de palavras duras. sempre duras e descontentes e disformes disfóricas umas vezes agónicas outras trocistas áridas incondoídas incapazes de se despirem do orgulho escárnio e mal dizer e sobretudo barradas de falso humor como se cheias de bicadas e alguns alfinetes de dama sem dono nem beiral de solidariedade. contudo tinham sempre um público atento devoto cínico canhoto habituado a dizer sim e talvez a tudo o que fosse talvez e sim na cartografia do amigo certo apenas enquanto ainda não incerto. estranhamentos cosidos a cuspo sobre a impunidade. cantigas sem letra nem música. apenas grunhidos e alguns gritinhos abençoados pela bendita vaidade de acreditar ser a mãe da originalidadezinha em formato amplo do auto-convencimento apadrinhado pelos que pensam dormir à sombra do amado manto da popularidade. era um dia tão cinzento e tão bruto que nem os animais sairam do curral. adormeceram gordos e ávidos à sombra do humoso destino da seara de palha queimada. comeram os ossos da injúria e enterraram-se na lama e nos excrementos. híbridos e exaustos são os cavaleiros do deserto e os monarcas do mau gosto gordo e insultuoso. obedecem à grande mulher do cabelo longo e dourado como asas de fogo morno que não aquece mas morde. e no dia cinzento de odores descontínuos e dentes moles juntaram-se todos à esquina a debulhar facas e ditongos cruéis numa dança de vencedores vencidos e de trapos funâmbulos . a sorte estava lançada. as árvores morriam. os cavalos chegaram à meta. o público aplaudia e a grande mãe troçava de Eckhart engolindo o granizo do seu próprio veneno. gelado.
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que o mundo em que vivemos tem pés de barro e morre-se todos os dias por uma falsa paz.


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