Uno de Mayo en Hesse
Atravesamos el bosque de Eberbach,
su senda interminable de frescura;
leyendas barrocas, la brisa entre los chopos.
En Bickenbach, el impulso de abandonar
el tren, que me arrastra como una ola
de hierro. Abajo me esperan una alfombra
de trigo y un vergel de sombras; la certeza
de un arroyo acogedor que fluye escondido.
Me han besado aqui las primeras amapolas.
ni Heine, ni Schiller; el aire entre los sauces.
Al bajar mi equipaje en la estación
tengo aún pegado el aroma a musgo.
Entonces llega la música, los cinceles
piedosos sobre la muchedumbre saciada,
y la breve ilusión de mariposa
de un solo día. Heidelberg es una fiesta.
Primeiro de Maio em Hesse
Atravessamos o bosque de Eberbach,
o seu caminho interminável de frescura;
lendas barrocas, a brisa entre os choupos.
En Bickenbach, o ímpeto de abandonar
o comboio, que me arrasta como uma onda
de ferro. Em baixo esperam-me um tapete
de trigo e um jardim de sombras; a certeza
de um regato acolhedor que corre escondido.
Aqui me beijaram as primeiras papoilas.
Nem Heine, nem Schiller; a brisa através dos salgueiros.
Ao recolher a minha bagagem na estação
sinto ainda em mim o cheiro do musgo.
Aproxima-se então a música, os cinzéis
piedosos sobre a multidão saciada,
e o breve entusiasmo da borboleta
de um só dia. Heidelberg é uma festa.
Luminarias
La mañana rodeó todas las cosas leves
en un abrazo de vida incendiada,
inaugurando nubes
en forma de acogedores enigmas.
Los ojos se quedaron en silencio
como alas de un pájaro indeciso
ante la maravilla del tiempo detenido.
Las nubes, tiernos setos,
moldeaban un laberinto azul
donde perder la inocencia y el trino.
Un hilo inaprensible descendia
de lo alto. Llegó para decir
“no busques la salida”.
El resplandor penetró sin barreras
a través de los párpados
como un río imparable de susurros.
Un eco lejano de sangre y tinta
surgió entonces de dentro,
de esse cielo escondido en las entrañas.
Luminárias
A manhã envolveu a leveza das coisas
num abraço de vida fulgurante,
inaugurando nuvens
em forma de acolhedores enigmas.
Os olhos permaneceram em silêncio
como asas de um pássaro indeciso
ante a maravilha de um tempo suspenso.
As nuvens, sebes delicadas,
moldavam um labirinto azul
onde se perdia a inocência e o cantar.
Um fio impercetível descia
do alto. Veio para dizer
“não procures a saída”.
A claridade penetrou sem barreiras
através das pálpebras
como um rio imparável de sussurros.
Um eco longínquo de sangue e cor
ergueu-se então do interior,
desse céu escondido nas entranhas.
Tradução de Victor Oliveira Mateus
Copyright da foto da publicação: Teresa Bonito