Sonnet III
Ô longs désirs, ô esperances vaines,
Tristes soupirs et larmes coutumières
À engendrer de moi maintes rivières,
Dont mes deux yeux sont sources et fontaines!
Ô cruautés, ô durtés inhumaines,
Piteux regards des célestes lumières,
Du coeur transi ô passions premières,
Estimez-vous croître encore mes peines?
Qu’encor Amour sur moi son arc essaie,
Que nouveaux feux me jette et nouveaux dards,
Qu’il se dépite, et pis qu’il pourra fasse:
Car je suis navrée en toutes parts
Que plus en moi une nouvelle plaie,
Pour m’empirer, ne pourrait trouver place.
***
Soneto III
Ó imensos desejos, ó esperanças malsãs,
Suspiros tristes, choros costumeiros
Criando em mim largos ribeiros,
De que minhas miradas são artesãs!
Ó crueldades de meus rigores tecelãs,
Miseráveis vislumbres de celestes luzeiros
Deste coração transido, ó enlevos primeiros
Aumentareis estas penas tão de mim guardiãs?
Ainda que o Amor, visando-me, novo arco desenhe
E dardos sobre dardos me lance a toda a brida,
E se mais s’enraivecer, e por pior qu’ainda faça:
Ah!, eu já estou, por toda parte, de tal modo ferida,
Que por mais que qualquer nova seta plane,
Não encontrará em mim lugar, casa ou praça.
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Tradução de Victor Oliveira Mateus