menu Menu
Homenagem a Filipa Barata
Por Revista Oresteia Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 7 de Janeiro, 2024 520 palavras
Revista Oresteia, Nº 12, janeiro de 2024. Anterior Poesia espanhola atual Seguinte

Filipa Andrea Barata nasceu em 21 de Janeiro de 1981. Era quarta-feira e o sol brilhou em Lisboa.
Viveu quase sempre em Santa Iria da Azóia, com os pais, onde frequentou as escolas primária e a C+S. Posteriormente frequentou a Escola Secundária de São João da Talha, onde terminaria o 12º ano. Revelou, desde muito cedo, excelente capacidade para a aprendizagem das línguas românicas. Falava correctamente castelhano e francês.
Frequentou a FLUCL (1999-2008), tendo, inicialmente, frequentado o curso de Estudos Portugueses e Alemães; porém, não se tendo entendido com o alemão, voltou ao liceu para fazer provas de francês. Ingressou no curso de Estudos Portugueses e Franceses, cuja licenciatura terminou em 2006.
Posteriormente frequentou o Mestrado de Cultura Portuguesa, tendo apresentado, já depois de acometida pela doença a sua tese com o título O lugar do Eu e do(s) Outro(s) nas “Memórias” de Raúl Brandão. Frequentou ainda o Instituto Cervantes, o Curso de Aperfeiçoamento em Imprensa (CENJOR) e o CAP (Certificado de Aptidão Profissional). Participou em vários colóquios, nacionais e internacionais. Em 2011, num coloquio sobre Fialho de Almeida, apresentou uma comunicação com o título Os Fialhos de Brandão; em 2013, participou activamente no colóquio sobre o Surrealismo, na Fundação Gulbenkian, tendo apresentado a comunicação Ruben A. A Torre de Barbela ou Portugal à lupa surrealista. Estas acções decorreram no âmbito do seu trabalho de investigação no CLEPUL-FLUL. Publicou recensões sobre obras de autores portugueses nas revistas Plural Pluriel, Colóquio Letras, Golpe D’Asa, Navegações.
Ainda iniciou o doutoramento em Literatura Portuguesa Contemporânea. Trabalhou como professora na Escola do Comércio de Lisboa.
Foi Assistente Editorial no sector livreiro (Nova Portugália, 2008-2009).
Faleceu a 2 de Maio de 2014.

.

.

*-*-*

procuro palavras limpas de suor
sem cicatrizes sem terra
palavras brancas de espanto
palavras com boca
que fale
palavras com pulmões
que respirem
.
palavras simples palavras palavras
capazes de dizer da
solidão
das ruas onde
o sol não chega
.
.
Filipa Barata. Palavras Sem Cicatrizes. Fafe: Editora Labirinto, 2023, p 30 (Prefácio da Marta López Vilar; Capa sobre um quadro de Isabel Mendes Ferreira)
.
-*
.
que farás agora com essa criança inflamada que
tens nas mãos
.
que farás agora do alto da sabedoria
do tempo que tens
.
que farás dos dias
em que hão-de arder as paredes
da cidade branca
.
.
Filipa Barata, Idem, p. 55.
.
.
-*
.
ficarei a noite inteira por detrás desta janela
sem vidros
o vento fere-me
estou só e sinto frio
.
de olhos postos na noite
recordo o dia
.
ouço-nos correndo pelo caminho abandonado
ao sol de verão
olho nas mãos as manchas de sangue
das amoras que colhemos na velha amoreira – frondosa de incertezas
junto à igreja
.
recordo os rostos
de pedra enrugados,
rostos de sol de chuva de vento
estão à porta das casas
na tarde quente
olham com estranheza quem chega
.
pelas ruas escuras de casas quase
em ruínas
emerge o cheiro do estrume e da
solidão
.
.
Filipa Barata, Idem, p 70.
.
.
-*

.

Nota – a foto desta publicação é da autoria de João Barata, irmão da autora homenageada aqui.

.


Anterior Seguinte

keyboard_arrow_up