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Poesia portuguesa
Por Solange Freitas Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 16 de Dezembro, 2023 262 palavras
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flamejar a palavra para que ela se torne a acção de um corpo sem partes,
em lugar da paixão de um organismo feito em pedaços

Gilles Deleuze
.
.
Penélope
.
Tenho um péssimo sentido de oportunidade
ou estou atrasada ou adiantada
desapareço nesse intervalo de tempo
quase não existo, não que faça muita questão
mas às vezes dava jeito saber viver
e sair do animismo
sou uma máquina de café
é só pôr a cápsula e voilà
um cubo de açúcar que encerra a jornada ancestral
adoça e voilà
um espelho que ninguém quer saber de que areia é feito
reflete e voilà
um cyborg
um corpo sem órgãos
contudo, jamais serei uma Penélope
porque se fosse pegava fogo ao tear
e não estaria à espera da chegada de Ulisses a Ítaca
teria mais que fazer
apenas me daria ao trabalho de atiçar o cão
e o meu fiel amigo trataria do resto
.

  • in Antologia Poética, Entrar Sem Bater Fafe: Editora Labirinto, 2022.
    .***
    .
    ou o poema subindo pela caneta
    Herberto Helder
    .
    .

Helena
.
.
Pela caneta pulsa a voz
solstício da mulher na tinta
os escombros nos teus ombros
as musas em greve
para a guerra — dizem a Helena
pela caneta ergue-se a voz
Helena a culpa que sobe pelos ombros não é tua
Helena o teu nome, só o teu nome é álibi do falo marioneta
não em teu nome
esta guerra não é tua
Helena, não ao cânone silêncio vulva monumental
ou fardo presente de guerra, a culpa
essa culpa não é tua
ainda é preciso dizer
ainda é preciso repetir
repetir para não esquecer
.
.

  • in Antologia Poética, Entrar Sem Bater. Fafe: Editora Labirinto, 2022.

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