menu Menu
Do Real Imaginário: Lugares, Pessoas, Etimologias... (Ensaio)
Por Risoleta C. Pinto Pedro Publicado em Filosofia, Filosofia Portuguesa, Portugal a 8 de Dezembro, 2023 3333 palavras
Poesia boliviana atual Anterior Poesia portuguesa Seguinte

DO REAL IMAGINÁRIO: LUGARES, PESSOAS, ETIMOLOGIAS…
…ou três modos de diáspora: mental, emocional e imaginária.

.
Terminei recentemente a leitura de um livro convencida de que o autor não só conhecia perfeitamente, mas vivera nos locais onde situa a acção, a tal ponto me senti transportada a tais lugares. Refiro-me a O Diabo Desceu em Chichester, de Victor Oliveira Mateus.
Pelo que soube, não fui a única que tomou como realidade o que é pura ficção, sustentada por alguma ou eventualmente muita investigação. De facto, é assim que as coisas por vezes se passam. Não é apenas o poeta a fingir-se de fingidor. O narrador, que nem sempre está assim tão longe do poeta, também pode fazê-lo na perfeição. E até pode fingir que esteve em lugares onde… realmente esteve. Nestes casos, é a vida a própria investigação. Não será o exemplo anteriormente aludido, o livro de Victor Oliveira Mateus, que no presente, e dado o interesse que a leitura me despertou, me serviu como introdução ao tema.
Um dos autores mais interessantes para este estudo é, sem dúvida, António Telmo. É, essencialmente, um hermeneuta, na senda dos brilhantes nomes da Escola Portuense e da notável Faculdade de Letras do Porto, encerrada pela ditadura militar.
De formação literária e académica clássicas, cria uma obra profundamente filosófica na senda de filósofos da chamada filosofia portuguesa e de poetas como Régio, Pessoa, Pascoaes… integrando o ensaio e a ficção, as modalidades de dissertação e conto, drama, diálogo e poesia. O ensaio é poético, a ficção é filosófica, num mesmo texto encontram-se entrelaçados ambos os atributos.
A sua personagem Tomé Natanael é motivo de poema, conto, reflexão, diálogo e entrevista. Criado, como explicado pela própria personagem, a partir de anagrama do nome de António Telmo, desdobra-se em Tomé, o cristão, e Nathan, o judeu. Para além de emergirem do self de Telmo, é de recordar que Nathan era profeta na corte de David e Salomão, e Tomé um dos doze apóstolos de Jesus. É célebre a dúvida de Tomé, expressa no “ver para crer”, mas se esta é a mais conhecida, não foi a única vez que revelou dúvida ou hesitação. Para além de formar com Nathan uma polaridade, ele próprio é palco de sentimentos extremos: a dúvida e a determinação, como um fractal que como parte contém em si o todo, pois ele mesmo
é judeu, e ainda que nutrindo um profundo amor por Jesus, duvida da sua ressurreição. Os extremos criados por Telmo não estão exactamente equilibrados, existe uma pendência para o lado judaico, e tal como ele próprio afirma noutro lugar, é a irregularidade da obra que indicia aquilo que é importante do ponto de vista do conhecimento. Um sinal, um indício, um apontar. E talvez seja este o segredo do cristão-novo ou marrano: a sua imperfeição. A sua grande e dilaceradora dor. Aquela que lhe permite manter-se vivo e lúcido. Porque tudo o que pode ser sentido pode ser curado. Melhor dizendo, integrado.
Esta personagem de Tomé Natanael, o antiquário de Estremoz, ou do seu desdobramento em Tomé e Nathan, espraia-se pela obra do filósofo. Se António Telmo e Tomé Natanael já são duplos um do outro, criador e criatura, por sua vez Tomé Natanael também se reparte no judeu e no cristão, cujos diálogos são, ao contrário do que poderia acontecer, de uma elevação profunda e inspiradora revelando uma cumplicidade gentil e por vezes o esboço de um sorriso. Existe ainda um outro nome anagramático, Nathan de Natanael, que parece mais um reflexo em espelho de Tomé Natanael. Ou de António Telmo. São vários os textos onde estas personagens surgem unidas ou desdobradas.
Outra importante vertente da obra de Telmo são as suas análises d’Os Lusíadas, que complementam e são complementadas pelas de Fiama Hasse Pais Brandão, a qual numa das suas cartas, no caso a de Dezembro de 1980, lhe escreve:

.
«António Telmo:
Depois de ter lido o seu novo texto sobre o sentido dos “Lusíadas”, aqui lhe mando estas palavras de entendimento e entusiasmo. Tenho vindo a citá-lo porque compreendo que o que tem dito de “Os Lusíadas” é vital.
Espero ter oportunidade de falar consigo qualquer dia e de trocar questões e pontos de meditação.»

.
Numa outra, repete:
«Espero ter a oportunidade de trocar descobertas, certezas, interrogações e dúvidas no âmbito do seu trabalho e do meu, trabalhos que me têm parecido sempre e afinal complementares, sendo ambos sobre os Filhos da (múltipla) Luz ou Lus(z)íadas.»

.
E ainda, a propósito da apagada e vil tristeza da capital, esta mulher que nunca perdeu a frescura do desejo da
descoberta, que tal como Telmo se sobrepôs a grupos de influência e preconceito, mantendo viva a chama do pensamento livre e equânime, assim termina:

.
«Não tem fim nesta já curta vida o que há para dizer e não-dizer e aprender. E aqui em Lisboa felizmente e infelizmente há muitos surdos. Por isso, esperando que outra sexta-feira o traga até Lisboa, se possível no início da tarde,
receba a grande saudação
da Fiama»

.
São cartas interessantíssimas, com aceso debate e mútua admiração ainda que nem sempre coincidentes os pontos de vista, mas sempre respeitosos e atraídos pelo ponto de vista do outro. Mas não é este hoje o nosso tema, pelo que serviram apenas de apresentação sumária de Telmo pela sua amiga e companheira de investigação, pois várias vezes se encontraram na Biblioteca Nacional, como testemunha António Carlos Carvalho.
Misteriosofia e Razão Poética são conceitos basilares da sua obra, pensamento e imaginação, mistério e razão, por isso voltemos a Tomé Natanael, a personificação deste aparente oxímoro, a sua personagem. Surgem, Nathan e Tomé, em variados textos, como já dito, e numa das entrevistas fictícias que Telmo escreve, à revista Princípio que pretensamente entrevista Tomé Natanael, anagrama, personagem e heterónimo.
A arte do disfarce da personalidade aparece de tal modo elaborada na construção desta personagem, que ficamos perplexos pela verosimilhança, como perante o caso aludido ao início.
Tive oportunidade de analisar esta arte do fingimento de Telmo pela sua personagem e alter-ego, olhando-a pelo lado da fragmentação do eu, numa conferência que fiz sobre Culturas Judaicas em Português, para um Colóquio realizado em Berlim sobre esta temática, e ainda uma outra, no Centro Cultural Sebastião da Gama, a propósito do centenário de António Quadros, onde cotejei a personagem Fernando P. de Quadros e Tomé Natanael de Telmo.
Aqui, por questões de extensão, explorarei apenas o fingimento do ponto de vista da imaginação, embora alargando a temática a lugares, como aconteceu na introdução, e a etimologias, com que concluirei esta breve reflexão que não chega a ser ensaística e assume sobretudo o tom de crónica, ainda que mais extensa.
O fingimento, saído umas vezes da imaginação, outras da fantasia, transversal a toda a literatura, é, aliás, a base da maior parte da produção literária universal, mas escolhemos hoje a imaginação, que se consubstancia, em certas obras e autores, de modo original e desafiador da capacidade do leitor para entrar no labirinto. Veja-se o caso, no outro extremo da Europa latina, a Roménia, de Marin Sorescu, que escreve: “Há muito suspeitava de mim mesmo/ e hoje persegui-me durante todo o dia/ a uma distância que evitasse suspeitas”. Para além de outras temáticas profundamente imersas neste poema, é genialmente verbalizada a por vezes impossível distinção, para os autores, entre o eu e a ficção. Ou tratar-se-á de dimensões?

É a questão que se coloca no conto “No Hades”, o conto das polaridades ou em busca da harmonia perdida: em “No Hades ou o Antiquário de Estremoz”, de alguma forma Platão e Aristóteles representam a mesma unidade criada a partir dos aparentes opostos/polaridades, tal como Tomé e Nathan.
Vejamos o que escreve Telmo:

.
«O que ali me aparecia era o símbolo do perfeito entendimento entre os dois filósofos. Eles conduziam e projectavam na nossa direcção a mesma energia […]»

.
Toda a sequência narrativa é exactamente erigida como um rigorosíssimo puzzle cujas peças ficaram viradas para baixo até que estivéssemos preparados para as ver.
As personagens principais são o autor, que se assume também como narrador e personagem, e Tomé Natanael, o antiquário de Estremoz. O centro de tensão e atenção do conto é uma reprodução do célebre afresco de Rafael, A Escola de Atenas. O lugar, a loja do antiquário que Telmo/personagem vai visitar.
A obra é conhecida. Por entre outros filósofos, destacam-se, ao centro, Platão e Aristóteles, um apontando o céu, o outro com os dedos virados para a terra. Afirma André Benzimra, que “o olhar do judaísmo é o culto de Elohim, o Ser criador. Distinto de El Elyon, que «olha» para o alto, em direcção ao Ein-Soph, o olhar de Elohim volta-se para baixo, para o que se afasta do Princípio supremo, para aquilo que vai ser criado. Daí se percebe que para esta religião, a vida é o maior dos bens, o mais sagrado”. Esta dupla e oposta orientação tem sido apontada como representando conceitos antagónicos. Nada mais errado. Por uma sequência muito bem encadeada de pares de polaridades, Telmo vai desenvolver, a partir desta, uma outra ideia.
Perante a reprodução da obra de Rafael podem encontrar-se alternadamente os dois ou apenas Telmo, e o quadro umas vezes está presente e outra não, sendo que é quando já não se encontra visível que mais se revela: «Durante um instante, a Imagem acendeu-se cheia de cor e de luz diante de mim».
Quando perante a cena representada, o narrador diz que «não ouvíamos o que diziam» não porque «nada diziam», mas porque «nada diziam que se ouvisse cá em baixo», isto pressupõe que algo diziam que fora do quadro não era possível ouvir. O que mostra, ou antecipa, algo que pretendemos mostrar sobre as dimensões e a imaginação.
Num outro texto deste autor e dos seus Contos, intitulado “Platão e Aristóteles ou o Mesmo e o Outro”, Telmo declara que «a oposição que se diz existir expressa nos textos de Aristóteles não é entre os dois filósofos, mas entre platónicos e aristotélicos», os discípulos. Isto é, na essência não há separação. Acrescenta mais à frente, como conclusão: «Ambos dizem o mesmo. Aristóteles tem em vista o homem natural. Platão o homem sobrenatural ou nascido segunda vez». O iniciado. Para Telmo, a chave é a iniciação, que permite o acesso a diferentes dimensões.
Tal como o afresco de Rafael “A Escola de Atenas” apenas reflecte o mundo onde pensamos a três dimensões ou assim o percebemos: «A sensação de que têm três dimensões e não duas se deve a estares tu também reflectido nele». Refere-se ao mundo da matéria.
Assim, Platão e Aristóteles da reprodução do fresco de Rafael só aparentemente pertencem a um mundo a duas dimensões; isso decorre de os vermos de fora. Logo, tudo é o mesmo. Ou um. Jogo de luz e sombra, jogo de aparência e realidade.
O diálogo neste conto entre o autor/narrador/Telmo com a “personagem” Tomé Natanael é um sonho, mas é mais: é o diálogo de Tomé Natanael consigo mesmo, isto é: de Telmo com Telmo.
Quando passa do “sonho” à “realidade”, o autor/narrador/ escritor/António Telmo (porque tudo se confunde), procura Tomé Natanael na sua loja, encontrando-o a polir uma lente, objecto não casual nem inocente, pois o que se pretende mostrar é que é tudo uma questão de ponto de vista ou de incidência e de refracção da luz.
Tomé Natanael encoraja o seu visitante a olhar a cena sem focar. Até ver a realidade como um tapete persa. Ou de Arraiolos. A Pérsia num tapete de Arraiolos ou Arraiolos no mundo Persa. Duas faces da mesma moeda.
O conto é um finíssimo, hábil e notável jogo de realidade e sonho, visão e ilusão, mundo a duas e a três dimensões, luz e sombra, visão ao perto e ao longe, presença e ausência, eu e eu/outro… Cruzamento e intersecção de mundos onde é possível «Platão nos entregar o seu Timeu ou Aristóteles as suas Categorias. Estou-me a ver a levá-los para casa, a folheá-los na minha secretária.»
E aqui temos a encruzilhada do mundo real e quotidiano do autor e o mundo ficcional onde vive a personagem.
Na linha do disfarce marrano, onde também se encaixa o nome simbólico dos iniciados, é dito de Tomé Natanael, o antiquário, que “ali em Estremoz é conhecido” por esse nome. O que nos deixa a dúvida acerca do seu nome verdadeiro. Ou o verdadeiro é o simbólico? Seja como for, é o tema central, o poder e o valor da palavra, tão caro ao Cabalista. É quando, pela primeira vez que é confrontado com o nome de António Telmo, através de um cheque que este lhe passa por uma compra de dois candelabros, esses judaicos transmissores de luz, aqueles sobre os quais repousa o Espírito de Deus, que Tomé Natanael se apercebe que os nomes são anagrama um do outro, como espelhos.
A obra de António Telmo, e este conto em particular, é da natureza das obras a que pertence o afresco de Rafael. Podemos olhá-la dezenas de vezes sem nos apercebermos do quanto está viva e fala. A três e a cinco dimensões. Um dia, depois de muita contemplação, entra-se nela e percebe-se, como é o caso deste conto, como palpita grávida de uma história que já descortinávamos, mas que resplandece apenas quando nela, finalmente, entramos. É aí que podemos travar conhecimento com Tomé Natanael, reencontrar António Telmo e não só. Como este desvenda no conto seguinte, “A Minha História”, ficamos a saber com ele, a partir de um encontro com alguém real, o pintor Délio Vargas que traz para a história, que este o informara, para sua (e nossa) estupefacção, pois ele nascera da sua imaginação, que conhecia o antiquário, trocara com ele longas cartas em que dissertava sobre Cabala. Era também casado com uma professora chamada Antónia, como a esposa de Telmo.
Tudo isto poderia ter ficado no limbo da ficção ou mesmo daquele género ambíguo que em Telmo está entre a ficção poética, a biografia e o ensaio, se eu própria não tivesse vindo a conhecer o pintor Délio e ouvido da sua boca o testemunho sobre a existência do antiquário de Estremoz estudioso da Cabala e companheiro de entrada em mundos. Seu nome: Rafael. O meu cérebro racional apenas encontra uma explicação: Tomé Natanael e António Telmo não são os únicos a conseguir entrar em outras dimensões. Também Délio Vargas, o talentoso artista, o consegue. Junto de si, caro(a) leitor(a), sei que ficará uma dúvida: se não serei eu própria cúmplice desta trama misteriosa, inventando a existência de alguém que não é real. Felizmente, houve quem tivesse assistido e ouvido o testemunho. Para além disso, poderá em qualquer altura dirigir-se a Lisboa e provocar um encontro com o pintor Délio Vargas. Em Estremoz debalde procurará pelo antiquário, a não ser que tenha mais sorte do que eu. Talvez pelo processo de Telmo e Tomé Natanael, eventualmente também do próprio Délio, consiga encontrar a loja. Até lá, leitor(a), sugiro que vá treinando o método ensinado a Telmo pelo antiquário: olhar através do dedo indicador apontando o céu, como o de Platão, não focando o dedo, mas mirando longe até ver a imagem em duplicado e olhando pelo intervalo. Ou “qualquer coisa de intermédio”, como encontramos em poema de Mário de Sá Carneiro. Foi assim que Telmo (ou Hermes? Ou Tomé Natanael?) finalmente entrou no cenário da Escola de Atenas num dia em que a reprodução já tinha sido retirada por ter sido adquirida por um comprador, e apesar disso não só a viu, como nela penetrou. Recomendo, a quem não conheça, a leitura dos Contos Secretos, e da restante Obra Completa do filósofo, felizmente editada. Uma deslumbrante forma de entrar no pensamento complexo de um escritor e pensador superior.
Ainda a propósito dele e do nosso tema, vem à colacção a questão das analogias e das correspondências, também na análise da língua e da gramática, para cujo estado a faculdade da imaginação é indispensável, desde que não isolada da razão, ou não seja ele o filósofo da razão poética. O mesmo se passa com as etimologias.
Sobre isto, procuro desesperadamente um livro esgotadíssimo intitulado Étymologies imaginaires, de Lanza del Vasto, que me parece, pelo título e descrições, o oposto, por isso de enorme interesse, do trabalho de Telmo, que evita «o risco de se cair na fantasia, esse falso duplo da imaginação», como afirma em “Etimologia Sagrada”, da Gramática Secreta da Língua Portuguesa, onde faz uma «reflexão da gramática portuguesa pelos princípios da arte poética». A armadilha da fantasia assusta-o, como explica:
«Qualquer pessoa pode conduzir ou desviar uma palavra para o significado que lhe aprouver, considerando nela apenas a letra ou letras que lhe convêm». Quando o que ele procura é
«encontrar alguns pontos firmes, perante os quais a fantasia se quede para ceder o lugar à razão poética.»
A etimologia do seu próprio nome, uma derivação de Hermes, não poderia ser mais solidamente sustentada. Assim como a entrada no Hades, exclusivamente reservada ao iniciado que é Hermes. Ou Telmo.
Para defender esta ideia vai apoiar-se no Crátilo de Platão, onde Sócrates defende que se deva estar vigilante perante as etimologias, não deixando que tudo se explique por tudo, lembrando, contudo, que no Fedro há «uma passagem de exaltação da sabedoria das pitonisas quando possessas», ressaltando que «fora dos momentos de inspiração essas mulheres são seres completamente banais». Há, assim, uma movimento de dignificação da inspiração, o lado poético da razão. Dirige-se para a conclusão, citando Platão:

.
«os homens que, na Antiguidade, instituíram os nomes, não tinham a opinião de que a inspiração, mania, fosse uma coisa vergonhosa, e nem sequer um opróbrio.[…] Olhavam a inspiração como a mais bela coisa […]».

.
O que permite a Telmo afirmar que «duas condições são, com efeito, necessárias nesta arte de formar etimologias pelos valores do diagrama principal; uma alteração da alma e uma lúcida embriaguez pela qual a razão poética organiza as formas da inspiração num sistema universal de pensamento».

.

.
Risoleta C. Pinto Pedro, Dezembro de 2023

.

*****


Anterior Seguinte

keyboard_arrow_up