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Um texto de Prosa Poética.
Por Filipa Vera Jardim Publicado em Literatura, Portugal, Prosa Poética a 30 de Novembro, 2023 161 palavras
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Naufrágio
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Comecei a navegar pelas bordas da tua urgência, devagarinho e com terra à vista. Depois, fui perce-bendo que é sem pé que se alcança a ternura e que o fundo do mar e o fundo da terra são um e o mesmo lugar.
Parti, porque havia vento e havia uma saudade imensa de horizonte. Parti, porque me esqueci de tudo o que nunca aconteceu e ontem me parece agora, apenas um lugar amanhecido no fundo de um frasco de vidro baço.
Parti, porque o sol me redesenhou sempre e de todas as vezes que se encostou à curva da minha lonjura.
Desde ontem que navego e não vejo senão horizonte. Um mar que me serpenteia entre os meus an-seios e ninguém… E o espanto atravessado na crista de cada uma das ondas que procuram um lugar.
desde ontem que navego e não sei se algum dia irei aportar.

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In Latitude. Fafe: Editora Labirinto, 2023, p 38.

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