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Poesia portuguesa
Por Rui Tinoco Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 20 de Outubro, 2023 203 palavras
Poesia espanhola atual - II Anterior Revista Oresteia, Nº 11, setembro de 2023. Seguinte

subitamente a ferida fechou-se:

a sua boca sobre a pele cerrou

os lábios: agora é como se nada

tivesse acontecido: ergo um pouco

os olhos, observo as tuas expressões:

a dúvida é uma simples palavra,

a dúvida infiltra-se por dentro

de todas as palavras: assim, todo

o texto pode dizer o seu contrário,

é então que suplico: relê o meu

texto desde o início:

***

o sábio cuidava das suas plantas
num ensimesmamento belo:
deixava também o silêncio adornar
todo o encanto que de si exalava:
decidiu-se, um dia, à derradeira
lição, principiava assim:
«no fundo, não existe sabedoria»:

***

o autor, na sua crónica,
apontou cuidadosamente todas
as circunstâncias: foi nesta pequena
ruína que eça parou, por breves
horas, na sua viagem de diligência
para leiria: congeminava a sua
futura obra: trazia, com toda a
certeza, alguns apontamentos: agora,
que releio essa velha crónica,
o papel amarelado nas mãos,
não deixo de sentir algum desencontro:
o passado cria uma ausência
dentro deste instante:

***

de regresso ao escuro ponho
os óculos de sol: pleonasmo:
negro sobre o negro: escuro
como forma de invisibilidade:
no fundo o não dito esconde-se,
não no branco, mas no próprio
escuro das letras:


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