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il neige - inventaire des absences (publicação bilingue: versão em português)
Por Denise Desautels Publicado em Canadá, Literatura, Poesia a 27 de Setembro, 2023 444 palavras
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neva – inventário de ausências

por vezes é agradável
por vezes referimos esse facto é agradável para aquela que lá está

insiste-se lembra-te
um céu muito escuro ou talvez neve

parece que sou eu eu murmura ela
o meu medo aos saltos face a esta constelação de covas
uma sílaba, mas depois faltavam outras
o meu medo – vigília ensurdecedora – eu despertei-te

presa agarrada às tuas costas
mas não como habitualmente a noite
mais vazia do que ontem sem mácula até ao seu fundo branco
memória pensamos murro
e sombra refletida na cabeça

ontem disseste qualquer coisa
neva – é tão complicada
a frase
ou o espaço fechado
talvez tenhas pronunciado incêndio
não recordo mais o que se seguiu
é estranho eu não creio ter dito salva-me

salva-me mesmo que verdadeiramente não existam mais estrelas
nós como outrora as nossas vozes noturnas
dedos ou ruídos apoiados na coberta da cama
de lado – para quem
aquela que está lá hesita procura
os primeiros sulcos das carícias
deixa subentender suspeição

dir-se-ia um qualquer caminhante
e a minha fantasia

interrompida por um pequeno muro ou não
eu eu e toda a gente
a minha frase quebrada as suas delicadas falanges por todo o lado

muitas
aquilo que dela subsiste
aquela que está lá e a outra – talvez tu também – e eu eu
círculo por cima de círculo
sólido caos

não há já superfície nem profundidade
e as nossas silhuetas sucumbem sem brilho
nada a assinalar

estarei eu mais uma vez sem saída
criança perdida falha espaço vazio num arquivo

hoje
aquela que lá está não responde
o portão escancarado

eu eu e o coração bate descompassado
de mais nada tira proveito

do deserto nas costas o odor o ar a alma
o que quer que seja de arriscado debaixo dos olhos e dentro

tu podes dizer noite dia
separar domingo e crepúsculo
cada segundo sonhador atravessa o pensamento poroso
sem ferrolho salva-me deriva
desprende-se – tronco

aquela que está lá eu eu cada vez menos
de autenticas guerras regressam
passado e presente batem no peito e fazem chorar

tu tentas o impossível tu apontas o dedo
tu algures e toda a gente
reciprocamente

tudo isso grita num ecrã
negro circulo de uma boca que tudo engole

por vezes é uma máscara
por vezes aquela que vai e vem extraviada articula máscara

ausente como pretender de outro modo
peito e cidade vazia – antes e depois – a minha cabeça
trespassada
nada mais trespassa

por detrás dos estores pensas um pouco mais ao longe
fechada em ti – um pouco da morte derradeira
é a noite céu e lâmina onde
uma abjeta surpresa magoa

eu eu sem nenhum outro pormenor sofro
ou falsamente num sono exemplar

Tradução a partir do francês de Victor Oliveira Mateus


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