Ladainha
De que te ris, ó poema
se só te esperam horas
de iniludível abandono
ou de puro fastio
enquanto suspiras inutilmente
por um par de olhos incautos
que se digne a prestar-te
alguma atenção?
E mesmo que tal suceda,
que atraias para a tua esburacada
teia uma vítima qualquer,
como esperas tu,
ó Ariadne de pacotilha,
enlaçar-lhe o fio,
rodopiá-lo em seu redor
e cravar-lhe na carne
as tuas míseras garras?
Contenta-te com o esquecimento,
desafortunado poema,
pois dele será o reino dos seus.
Fantasmas.
***
Hipotusa
Viver é fácil:
colocas o eixo longitudinal
dos dias
por cima da curvatura
oblíqua dos corpos,
escavas as suas linhas rectas
sem que percas a quadratura
da felicidade mais sombria
e ofusques os caretos
que te alumiam o coração
rumo à sombra mais funda
de ti