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Poesia brasileira atual
Por Marize Castro Publicado em Brasil, Literatura, Poesia a 17 de Setembro, 2023 224 palavras
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Não me pertenço

Sou das profundezas
das grandes derrelições
dos desertos inominados
das cabras desamparadas

Da vermelhidão reacesa
nos sexos das árvores

Não me pertenço

Escrevo cega
escrava
serva
dríade

Ver demais é doença?

Aterrissei em terreno minado
Desisti das superfícies

(permaneci vizinha do sol)

Sou aquela mulher do Mercador do Rio
– nunca olhei para trás

Continuo intocada pelo horror
flertando com os olhos do céu

***

Trocar as brumas do norte pela claridade do sul
era coisa de Sofia

Aquela que nasceu no Porto e de lá saiu para escrever,
pertencer, resistir

Odiar o que fosse fácil

Aquela que teve a casa amada estilhaçada e se entregou
para as coisas alicerçadas no silêncio

Caminhar na noite, guiada por estrela secreta
também era coisa de Sofia

Aquela que procurou a si mesma na luz
no mar, no vento

e sempre soube:
escrever é atravessar a substância de tudo

_________________________

Marize Castro nasceu em 1962 em Natal (RN), onde vive. Autora de oito livros de poesia, entre eles Jorro (Ed. Una, 2020) e A mesma fome (Ed. Una, 2016). Em 2024 completam-se 40 anos desde sua estreia com Marrons Crepons Marfins. Obteve o Prêmio Othoniel Menezes com o livro poço. festim. mosaico. (1996). Grande difusora da literatura potiguar, é também autora de O silencioso exercício de semear bibliotecas (2011), sobre o trabalho da poeta e bibliotecária Zila Mamede.


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