Éramos novos
quando pensávamos
que os anos pouco passavam.
No encantamento das pequenas lonjuras
era fácil resistir ao tempo:
o mínimo gesto, um vestido azul
alguém que passa a laranjada
tinham a luz diáfana da perenidade.
Em nós eternizaram-se as noites
de poucas e muitas palavras nos sofás
eternizou-se o lobisomem do quintal
a luz que ilumina o apaziguamento.
Habituei-me a reconhecer os dias quentes
pela sonolência dos cães.
Há rios de médio porte
nas zonas baixas das encostas.
Há igrejas de terras pequenas
com primos no adro.
Neste domingo ponho a hipótese
de ir ao rio mais próximo.
Neste domingo ponho a hipótese
de não ir à igreja mais longe.
Considero que já disse
o pouco que queria dizer;
rios que não refrescam,
missas que aumentam o calor.
Daniel Maia-Pinto Rodrigues nasceu no Porto, em 1960. Publicou, até à data, vinte
livros (poesia, novela e romance). Está representado em mais de quarenta antologias poéticas, a maioria das quais editadas pelas principais editoras portuguesas. Ao livro A Próxima Cor foi atribuído o 1º Prémio Nacional Foz-Côa Cultural e a Menção Honrosa / Novos Valores da Cultura, pelo Ministério da Educação e Cultura, segundo parecer do Júri constituído por Fiama Hasse Pais Brandão, Vasco Graça Moura e José Fernando Tavares. O seu livro Dióspiro – Poesia Reunida (1977-2007) foi considerado, pela Universidade do Minho, o melhor livro de poesia editado em Portugal no ano de 2007. Turquesa, Poesia Reunida – 1977/2017, com prefácio de Rui Lage, editado em 2020 pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, foi recomendado para integrar o Plano Nacional de Leitura 2027.