menu Menu
Poesia espanhola atual
Por Corina Oproae Publicado em Espanha, Literatura, Poesia a 21 de Fevereiro, 2023 621 palavras
A resolução de morrer (Conto) Anterior Poesia brasileira atual Seguinte

leyendo a Cecília Meireles

UNA niña flota hermosa en el agua de mi pensamiento
que discurre fragmentado
en silencio


su belleza me atraviesa como una espada


su belleza no está en el ojo que mira
está encerrada en sí misma es altiva e indiferente


no puedo escapar
su mirada hipnótica
me atrapa y me culpa


una niña flota hermosa entre la muerte y la vida
no hay ninguna rama de sauce rota
hay sólo el engaño en la esperanza
esta armonía tan simple que repele el grito
que aniquila el instinto


finjo que entiendo la muerte
finjo que estoy a salvo


una cortina transparente me aísla
la niña la traspasa lentamente
se levanta de su lecho y baila


ahí donde acaba el sufrimiento comienza otra cosa
que no tiene nombre
una danza efímera como una flor
se abre en mi ojo


es demasiado tarde pedir que esta muerte
no se me haga poema


ya sé que sólo se está a salvo en la palabra

***

lendo Cecília Meireles

UMA menina flutua formosa nas águas do meu pensamento
que discorre fragmentado
em silêncio


a sua beleza trespassa-me como uma espada


a sua beleza não está nos olhos que veem
está fechada em si mesma é altiva e indiferente


não consigo escapar
o seu olhar hipnótico
prende-me e culpa-me


uma menina flutua formosa entre a vida e a morte
não há sequer um ramo de salgueiro partido
há apenas o logro na esperança
esta harmonia tão simples que repele o grito
que aniquila o instinto


finjo que entendo a morte
finjo que estou a salvo


uma cortina transparente isola-me
a menina atravessa-a lentamente
levanta-se da sua cama e dança


aí onde acaba o sofrimento começa outra coisa
que não tem nome
uma dança efémera como uma flor
abre-se nos meus olhos


é demasiado tarde para pedir que esta morte
não se transforme em poema


sei bem que apenas na palavra se está a salvo

Tradução de Victor Oliveira Mateus

________

NO es ni helecho ni zarzamora
la muerte


elijo la vida lenta
esta vez
el sosegado envejecer del árbol
que tengo delante
y que ahora me sostiene
el camino infinito
hacia el mar que vi por primera vez
aquellas montañas gigantes desplomadas
en un cambio de estado de inmensidad
y el lento sumergir de mi ser
en un coro antiguo de aguas
lágrimas
que se mezclan con la sal
y se vuelven plegarias
reminiscentes caricias de la diosa petrificada
dentro de mi primer sueño


elijo la vida lenta
esta vez
ignorar que el árbol siempre reverdece
soñar dentro de este mismo sueño
rezar en octosílabos que encierran el sentido último del mundo
y curan para siempre todas las heridas
olvidar a la madre
olvidar al padre
mas sin ser huérfana
sentirme hija madre diosa hermana hada bruja
más allá de la vida
más allá de la muerte


que no es ni helecho ni zarzamora
sino oscuridad y caverna
círculo y esfera
de nuevo y siempre


fulgor destello luz

***

NÃO é feto nem silvas
a morte


escolho uma vida lenta
desta vez
o calmo envelhecer da árvore
que tenho frente a mim
e que agora me sustém
o caminho infinito
em direção ao mar que vi pela primeira vez
aquelas montanhas altíssimas desembocando
numa alteração do interior da imensidão
e o lento submergir do meu ser
num antigo coro de águas
lágrimas
que se misturam com o sal
e se transformam em preces
relembradas carícias dessa deusa petrificada
dentro do meu primeiro sonho


escolho uma vida lenta
desta vez
ignorar que a árvore sempre reverdece
sonhar dentro deste mesmo sonho
rezar em octossílabos que encerram o sentido último do mundo
e curam para sempre todas as feridas
esquecer a mãe
esquecer o pai
mas sem ficar órfã
sentir-me filha mãe deusa irmã fada bruxa
para além da vida
para além da morte


que não é nem feto nem silvas
mas obscuridade e caverna
círculo e esfera
de novo e sempre


esplendor brilho luz

Tradução de Victor Oliveira Mateus

 


Anterior Seguinte

keyboard_arrow_up