Lavador de pratos
Sussurram,
na superfície da louça,
os duendes da faiança
e o piano de Satie.
Enxáguo
desejos inconfessos e,
entre talheres,
me despeço
da Gymnopédie.
Há sempre um ar de água
nas frases que me dizem
quando a manhã acaba.
E no brilho dos pratos,
a mesma cor
da mágoa.
Exercício de redação
Ao Prof. José Newton Alves de Sousa
No papel almaço,
trinta linhas acesas.
E um vulto a nos ditar
perífrases e estrofes
no silêncio da sala.
(As três naus das metáforas
desatam suas asas).
No papel almaço,
as mesmas trinta linhas
invadem nossa fala.
O vulto nos ensina
os sóis da metonímia:
o vocábulo do fogo queima
o branco da folha.
(A planta noturna,
que sua mão recolhe,
nas entrelinhas dorme).
O branco persegue
sua lição de insônia:
aquela que conduz
ao mesmo paralelo
do lugar onde o sonho
inverte o seu império.
Dessoletro-me sozinho
neste canto de sala.
O vulto vem e espreita.
Mais nada…