SÁBADO À TARDE
Duas horas na ponte
A ler um poema
De Gória Fuertes
-tenho sempre um poema
Quando há um acidente-
Depois de três horas
Contigo à beira mar
A explicar-te as ondas
Numa língua de areia
É a eternidade.
TRAVESSA DOS REMOLARES
Uma rua
Com este nome:
Travessa dos remolares
Faz-me pensar em muitas coisas que vi
E vivi de braços cruzados
A olhar de longe
Traz-me à memória
A ladeira de navios
De mastros fustigados
Sugando a luz
À porta do número cinco
Número impar a par de nós
O único que não caiu
Do prédio em ruínas.
EXPLICAÇÃO PARA ESTAR PARADO NA RUA
Espero o quê
Há uma hora nesta rua?
Que um pombo
Me cague em cima
Que alguém me cuspa
E assobie
Que a luz do segundo esquerdo
Se apague
E eu retome o atalho
Do perigo e do movimento?
Espero para ouvir as horas
No relógio da catedral
E partir.