A partida recente de Isabel Aguiar, que deixou muitos dos autores portugueses surpreendidos, leva agora a Revista Oresteia a publicar alguns dos seus inéditos. A Isabel tinha-nos enviado estes textos para serem publicados no Nº6 da Revista, contudo eles chegaram até nós já fora do prazo, pelo que a autora – em mail próprio – se desculpa. No entanto, decidimos publicar no presente número esses mesmos inéditos: é um modo de significar a ausência e a mágoa que a Isabel Aguiar nos deixou.
1.
Alça-se a uma distância infinda
o ser
não sabe onde pousar
onde ser o que é
numa falta de presença a si.
***
2.
Numa árvore pousa o pássaro escolhido,
indelével voo o transporta para o alto
da copa.
Melro que dá sinais de vida
a todos os seres que passeiam no
limite da linha horizontal do ser
sendo-se a toda a hora
como melro em bicada fatal
a sendo.
***
3.
Inapelável busca do ser
ao que quer que seja
sem saber um porquê.
Ser senciente
de tudo o que lhe pôde acontecer
daí para trás
e busca daí para a frente o desconhecimento
que seja um conhecimento a posteriori
da matéria existencial imprevista.
***
4.
Busca o melro
o centro da árvore
e só encontra um ponto deslocando-se.
O centro não são os ninhos,
esses lugares pousantes ao amanhecer
muito cedo para não defraudar
a luz do sol vivente sobre cada linha
das que o melro então persegue
à busca do alimento desejável.
É já um centro do ninho
que aponta rectilíneo para o centro da árvore
um e outro deslocando-se com a aragem
não sendo necessária uma ventania
para pôr em descentrada direcção
o ninho e o centro da árvore
que não deixam de se equiparar na equidistância.