menu Menu
Poesia Inglesa do século XIX (versão bilingue)
Por John Clare Publicado em Inglaterra, Literatura, Poesia a 16 de Janeiro, 2022 641 palavras
Poesia italiana atual (versão bilingue) Anterior Quatro poemas inéditos Seguinte

First Love 

I ne’er was struck before that hour
With love so sudden and so sweet,
Her face it bloomed like a sweet flower
And stole my heart away complete.
My face turned pale a deadly pale,
My legs refused to walk away,
And when she looked, what could I ail?
My life and all seemed turned to clay.

And then my blood rushed to my face
And took my eyesight quite away,
The trees and bushes round the place
Seemed midnight at noonday.
I could not see a single thing,
Words from my eyes did start –
They spoke as chords do from the string,
And blood burnt round my heart.

Are flowers the winter’s choice?
Is love’s bed always snow?
She seemed to hear my silent voice,
Not love’s appeals to know.
I never saw so sweet a face
As that I stood before.
My heart has left its dwelling-place
And can return no more.

***

PRIMEIRO AMOR

Antes daquele momento, nunca o amor
me tocara com tal doçura e de supetão,
seu rosto abriu-se como delicada flor
e para sempre roubou meu coração.
Meu rosto lívido como o de um morto,
afastar-se meu corpo do dela recusou,
e no seu olhar o meu se fixou, absorto.
Em barro a vida e tudo o mais petrificou.

Afluindo ao rosto, o sangue fez-me corar
e turvou de súbito o que então eu via,
as árvores e arbustos daquele lugar
pareciam a meia-noite ao meio-dia.
Via o que vê quem não mais acorda
e dos olhos cegos uma voz falou
(como o acorde fala através da corda)
e o coração meu sangue incendiou.

Serão as flores vontade do inverno?
Será a neve sempre do amor o leito?
Ela pareceu ouvir meu rumor interno
sem lhe escutar os rogos do peito.
Jamais contemplei tão dócil beleza
como a do rosto que tinha à frente.
Meu coração abandonou sua casa
e perdido ficou para todo o sempre.


I Am!

I am—yet what I am none cares or knows;
My friends forsake me like a memory lost:
I am the self-consumer of my woes—
They rise and vanish in oblivious host,
Like shadows in love’s frenzied stifled throes
And yet I am, and live—like vapours tossed

Into the nothingness of scorn and noise,
Into the living sea of waking dreams,
Where there is neither sense of life or joys,
But the vast shipwreck of my life’s esteems;
Even the dearest that I loved the best
Are strange—nay, rather, stranger than the rest.

I long for scenes where man hath never trod
A place where woman never smiled or wept
There to abide with my Creator, God,
And sleep as I in childhood sweetly slept,
Untroubling and untroubled where I lie
The grass below—above the vaulted sky.

***

Sou!

Sou – porém, quem sou ninguém sabe ou lhe importa;
os amigos abandonaram-me qual memória esquecida:
às minhas misérias sou eu quem abre e fecha a porta
quando elas vão e voltam a esta hospedagem distraída,
como sombras em agonias loucas e sitiadas da paixão,
e, contudo, sou, estou vivo – como vapores lançados

no buraco negro dos ruídos atroantes e da aversão,
no oceano tumultuoso dos devaneios acordados,
onde não há prazeres nem um sentido para a vida,
apenas o troante naufrágio da minha auto-estima,
até aqueles que eu mais amei, a amizade mais querida,
são-me estranhos – mais ainda do que gente anónima.

Anseio as sendas que o homem não há-de percorrer,
um lugar onde nenhuma mulher chorou ou sorriu,
para com o meu Criador, Deus, ali permanecer
e dormir, como na infância meu corpo dormiu,
imperturbado e imperturbável, em paz deitado,
a erva por baixo – por cima o céu abobadado.

John Clare traduzido por João Albuquerque


Anterior Seguinte

keyboard_arrow_up