nefelomancia
1
agora que
aprendi a olhar para o céu
(antes, a cabeça nas nuvens
, os olhos ao redor
esquecia-me)
vejo o que não via
olho para cima
e já sei distinguir
uma sirrus de uma stratus
as sombrias cumulonimbus
e suas variações
cirrocumulos, cirrostratus
altocumulos, altostratus
desde sempre identificáveis
com seu aspecto trevoso
anunciador de tormentas
oprimem/amedontram
estou com sorte, hoje
havia cirrus ao alcance da vista
(preciosos e reconhecíveis cristais)
iridescências
apesar da imensa altitude
senti a maciez da seda
a empurrar-me
delicadamente
na direção do vento
deixei-me levar
(o predizer adiado)
2
na cidade aprisionada
os corredores da noite
despovoados de fantasmas
preenchidos de silêncios
o medo já não é
dos mortos
é medo dos que
virão a ser
os seres viventes
atordoados e insones
acessam as redes virtuais
à busca
à busca
à busca
um eco qualquer
que lhes diga
que lhes mostre
os mapas a percorrer
da série, inédita, noites insones, pandemia e desnorteios
Dalila Teles Veras nasceu em Portugal (Funchal, 1946), vive no Brasil desde a infância. Autora de inúmeros livros de poesia. tempo em fúria, 2019, SETENTA anos poemas leitores, poemas escolhidos por 70 leitores por ocasião dos seus 70 anos (2016) os mais recentes. Publicou também crônicas e ensaios memorialísticos. Dirige a Alpharrabio Livraria, Editora e Espaço Cultural em Santo André – SP, desde 1992. Integra, pelo 4º mandato, o Comitê de Extensão e Cultura da UFABC (Universidade Federal do ABC), representando a comunidade externa. Doutora Honoris Causa, 2019, pela UFABC.
e-mail: dalila@alpharrabio.com.br homepage: www.dalila.telesveras.nom.br
blog pessoal: http://dalilatelesveras.blogspot.com/
© – Foto da publicação da autoria de Luzia Maninha