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Dois Poemas
Por Nuno Brito Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 19 de Setembro, 2021 311 palavras
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Cura

É preciso acender o mundo
com a boca.
Com o sol da nuca.
Com o coração.

São precisos todos os faróis.
São precisos todos os relâmpagos.

Todas as palavras
são precisas
Para acender o mundo.

É preciso

No fundo de um rio
Uma pedra

uma ideia de liberdade
No centro do coração.

Um chapéu na cabeça
Talvez.

É preciso olhar com mais atenção
Para uma pedra
Para um rio
Para uma árvore.

É preciso olhar com toda a atenção
Para o interior de cada ser

E ver nele o teu fundo
Mais sincero

(Mas tu não tens fundo
tu não tens fim.)

É preciso em cada estrada uma curva
Em cada deserto uma sombra

Pegar numa corda
E fazer um baloiço
Amarrado a um tronco seguro de uma árvore

levar uma memória até ao paraíso
Apagá-la para sempre:

Acender todo o caminho
Como uma cura
Em tudo maior

É preciso em cada mão
Outra mão

Até a sabedoria ser a nossa anatomia
É preciso acender o mundo
Com toda a luz do coração.

 


 

A fazer hoje:

Escrever um poema sobre a liberdade e vê-lo arder.
Vivo.
Como uma mãe.
Escrever no centro do coração que o amor é o homem inacabado.

Respirar.
Respirar.
Respirar.

Pedir pouco.
tão pouco…
quase nada.

Olhar de frente o sol.
Agradecer.

Olhar de frente a estrela mais pequena.
Agradecer.

Ver um caracol subir um vaso, uma planta, comer uma folha, abandonar a sua casa.
Agradecer que se tem família, agradecer que se tem amigos,
Olhar uma flor roxa fechar-se na noite.
Empurrar a minha filha no baloiço.
Dizer-lhe que nunca tenha medo.
Abraçar a Ale.
Tomar um café quente.

Pedir pouco.
Tão pouco.
Quase nada.

 

 

In Ode Menina, Editora Exclamação, 2021.


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