Mãe, nossa Natureza sagrada
soberana na Terra e no Céu
e nas Águas
santificado seja o Vosso nome
somos do Vosso reino
foi feita a Vossa vontade
assim nas minas quanto na Troposfera
a nossa ração de Petróleo nos dai hoje
alguns de nós não conseguem perdoar-vos
assim todos não seremos perdoados
por tanta gulodice.
Não nos deixes sem o ribombar dos motores
mas livrai-nos da indiferença
Ámen
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Mãe. À noite, sentados ao redor do lume
deitava a cabeça no teu regaço
e adormecia
enquanto rezavas ao Deus incógnito
só reconhecido pela sua severidade.
Agora, quase sempre
o frio enregela-me (vou dizer, os ossos da alma)
no outro lado do oceano
na Nova Inglaterra
filha de colonos vorazes
está a nascer Emily Dickinson
apenas por outros nos reconheceremos
irmãos do mesmo fogo sagrado.
Também de Walt Whitman e H. D. Thoreau sou irmão
pois, ser e sentir são o mesmo
a mesma ânsia de Amor e de Liberdade
rios que correm lado a lado, autênticos e selvagens
sem mestres – fluidos e a tudo se adaptando e transformando
enquanto arrastam e arredondam pedras
e abrem gargantas abismais nas montanhas
rios sagrados pelos naturais (a que chamaram Índios)
emplumados com as cores do arco-íris.