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Inéditos de Manuel Silva-Terra
Por Manuel Silva-Terra Publicado em Literatura, Poesia, Portugal a 3 de Junho, 2021 229 palavras
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Mãe, nossa Natureza sagrada

soberana na Terra e no Céu

e nas Águas

santificado seja o Vosso nome

somos do Vosso reino

foi feita a Vossa vontade

assim nas minas quanto na Troposfera

a nossa ração de Petróleo nos dai hoje

alguns de nós não conseguem perdoar-vos

assim todos não seremos perdoados

por tanta gulodice.

Não nos deixes sem o ribombar dos motores

mas livrai-nos da indiferença

Ámen

 

 

****

 

Mãe. À noite, sentados ao redor do lume

deitava a cabeça no teu regaço

e adormecia

enquanto rezavas ao Deus incógnito

só reconhecido pela sua severidade.

 

 

Agora, quase sempre

o frio enregela-me (vou dizer, os ossos da alma)

no outro lado do oceano

na Nova Inglaterra

filha de colonos vorazes

está a nascer Emily Dickinson

apenas por outros nos reconheceremos

irmãos do mesmo fogo sagrado.

 

 

Também de Walt Whitman e H. D. Thoreau sou irmão

pois, ser e sentir são o mesmo

a mesma ânsia de Amor e de Liberdade

rios que correm lado a lado, autênticos e selvagens

sem mestres – fluidos e a tudo se adaptando e transformando

enquanto arrastam e arredondam pedras

e abrem gargantas abismais nas montanhas

rios sagrados pelos naturais (a que chamaram Índios)

emplumados com as cores do arco-íris.

 


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