os porcos
Um grupo de porcos domésticos ficou assustado com o som de armas vindo algures da floresta e agitou-se em tumulto. Eles quebraram desajeitadamente a cerca com as cabeças e fugiram da casa solitária de madeira carcomida, situada à entrada da floresta, indo em direção ao rio, mas caíram no caminho. Nas brechas de pedra, a espessa pele branca foi vivamente cortada pelas pontas afiadas, e o sangue encarnado irrompeu, tornando o granito sangrento e sujo. As pernas curtas do grupo de porcos continuavam a bater nas pedras e logo conseguiram fugir em direção ao alvo, gemendo, como se não sentissem a dor causada pela pele esfarrapada dos seus corpos, apenas olhando para o rio à sua frente.
A água do rio que fluía foi rapidamente tingida de um leve vermelho brilhante pelo sangue de porco. Os corpos dos porcos giravam constantemente na correnteza rápida, e as bocas abertas mostravam vários dentes. A água do rio jorrava das suas bocas e narinas, com grunhidos agudos, que acabaram submersos pelo som estrondoso da água.
O céu escurecia e a paisagem em redor estava coberta por um pano preto, deixando apenas entrever um pequeno raio residual alaranjado à distância. A água do rio refletia o luar prateado, iluminando os cadáveres de vários porcos domésticos que flutuavam. Os cadáveres incharam após permanecerem na água, como balões inflados ao extremo explodindo ao tocar levemente a ponta afiada de uma rocha que se projetava da água, e os órgãos internos dimanaram suavemente para o rio, exalando um fedor.
Ninguém sabe por que esse grupo de porcos de repente enlouqueceu e se pôs a fugir. Os habitantes da aldeia próxima encontraram os restos de porco apenas na manhã seguinte, quando foram à beira do rio buscar água. Não pensaram muito nisso. Todos voltaram para casa depois de terminar o trabalho, foram para o rio no seu ritmo habitual, mas desta vez havia mais carne de porco e um pouco de órgãos internos. A carne de porco levada pelos aldeões não foi para o seu uso pessoal, mas sim para alimentar os animais domésticos da casa, entre os quais também havia porcos.
Um porco que come outro porco morto. É claro que não sabe que a carne é de porco, muito menos de porco morto. Apressam-se a baixar as suas cabeças na longa placa de madeira onde a carne de porco morta está colocada, arfando e mastigando essa carne deliciosa, acumulando ativamente a gordura nos seus corpos, sem saber que na placa de agulha está o brilho prateado e frio da faca afiada.
José Wong, natural de Macau, é bilingue português-chinês. É um amante de poesia e traduz poetas lusófonos para chinês pelo prazer de divulgar a sua poesia. Ele próprio poeta, escreve regularmente no Diário Omun (jornal chinês de Macau), onde tem publicado os seus poemas e contos. Colabora também com a revista Voice & Verse, de Hong Kong (https://vvpoetry.com/).